sábado, 27 de outubro de 2007

As capas da Rolling Stone

Em 1974, a revista Rolling Stone, publicava-se a cores, desde o ano anterior. Segundo conta o seu fundador, Jann Wenner, no livro comemorativo dos 30 anos da revista, com a reprodução de todas as capas até então, o logotipo foi desenhado por Rick Griffin, um artista de cartazes psicadélicos de S. Francisco, lugar onde a revista nasceu, antes de se mudar para a costa leste dos EUA, mais tarde.

A primeira imagem que vi da revista, indicada na página da National Lampoon, foi precisamente o primeiro número em que a revista saiu com a capa em quadricomia, em 25.2.1973. Uma imagem de Bette Midler, a que se seguiu um número com Mick Jagger na capa, numa das melhores capas da revista, fotografada neste caso por Annie Leibowitz, autora de inúmeras fotos que fizeram a capa, incluindo a de 22 de Janeiro de 1981 que conseguiu o prémio de melhor capa de revista americana, dos últimos 40 anos, há um par de anos atrás. Annie Leibowitz, em dez anos e até 1983, altura em que deixou a revista, foi a autora de fotos em 142 capas.

O logotipo da revista foi graficamente aprimorado e mudou de forma ao longo dos anos, em três ocasiões. A primeira, com o número 180, de 13.2.1975, em que passou do efeito caleidoscópico, algo psicadélico do corpo das letras, para a cor opaca e sem debruados. Este formato mais simplificado, durou até ao décimo aniversário da revista. Em 15.12.1977, o logotipo simplificou-se ainda mais e cortou os rebites, mudando a forma das próprias letras. O logotipo, desenhado desta vez por Jim Parkinson, foi entendido, por Jann Wenner, como uma modernização. Nesse número, o design gráfico já entregue aos cuidados de Roger Black, tipógrafo de formação e que já vinha de Abril de 1976 ( e que ficou até 1983) , ganhou a colaboração de Bea Feitler que tinha vindo das revistas Harper´s Bazzar e Ms. ( uma revista feminista e com capas de grande qualidade artística). Foi nesse período, que em 26 de Janeiro de 1978, Bob Dylan apareceu na capa da revista, numa foto de Annie Leibowitz, com uma entrevista de Jonathan Cott que a revista portuguesa Música & Som publicou por cá, em dois números.

O novo logotipo aguentou desta vez, mais 3 anos. No número de 22.1.1981, o tal com John Lennon fotografado dias antes de morrer, mudava para a concepção anterior dos debruados e redobras literais, numa alteração aprovada por Jann Wenner depois de ter ouvido as críticas de Mick Jagger a propósito da beleza do logotipo antigo por contraposição ao moderno.

Nesta altura, nos anos oitenta a revista tornara-se já uma instituição, conservadora de certos respeitos e leniente nas críticas, renegando o espírito inicial de alguma contra-cultura herdada do espírito dos sessenta.

Em 10 de Agosto de 1978, a revista publicava uma crítica ao disco dos Rolling Stones, Some Girls, assinada por Paul Nelson. Em três colunas, o crítico negligenciava a beleza artística do disco com considerações como esta: “ levou-me algum tempo a compreender que a chave para representar como actor, é a honestidade- contou um actor ao antropólogo Edmund Carpenter. Quando se descobre como falsificá-la, está feito”. Esta passagem referia-se à comparação entre o LP e o antigo Exile on Main Street, considerado como o paradigma da música dos Stones.

No número seguinte, assinado por Greil Marcus, um dos maiores críticos da música popular e autor de livros de referência nesta matéria, aparecia a apreciação do disco de Bob Dylan, Street Legal.Entristece-me dizer que não partilho da opinião do meu colega Dave Marsh, quando diz que o último disco de Dylan, é uma “piada”, ou de qualquer forma, uma boa piada. A maioria do material, aqui, é ar saturado ( dead air) ou perto disso. (…) Bob Dylan nunca soou tão a falso. Claro que Dylan já publicou maus discos, antes; mas Solf-Portrait tinha Copper kettle, New Morning, Sign on the window, Planet Waves, Wedding Song e Desire, Sara. O colapso do timing em Dylan assegura-nos que já não subsiste nenhuma dessas estranhas pérolas, por aqui”.

Estas duas críticas, mereceram de Jann Wenner uma atitude inédita, dois números a seguir: uma crítica aos críticos, em que se escrevia que as crónicas de Marcus e Marsh eram ataques “ad hominem”, refazendo a honra perdida dos dois músicos, justificando-a com esta observação judiciosa: Discussões críticas – históricas, sociais e morais- que acabam por andar à volta do ponto sobre as coisas já não serem o que foram, são inúteis. Dizer o contrário, é negar o envelhecimento do observador e do observado e ignorar o factor da mudança.”

A partir desta altura, mais ou menos, o interesse nas novidades da música rock começou a desaparecer.

























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