segunda-feira, 21 de maio de 2007

Os desenhos primitivos


A primeira vez que li uma aventura de Tintin, foi na versão portuguesa da revista belga Tintin, mais precisamente no número 39 de 19.2.1972. A historieta ia já adiantada e chamava-se Tintin na América, sendo a versão redesenhada em 1946, da original, publicada em 1931.
O ano de 1946, foi também o do aparecimento da revista Tintin, a original, belga.
Em Portugal, as aventuras de Tintin eram já conhecidas desde 1936, precisamente com a historieta As aventuras de Tim-Tim na América do Norte, versão de 1931, publicada na revistinha O Papagaio, em 1936 e 1937, por iniciativa de Adolfo Simões Muller. Este autor e divulgador emérito, tomou conhecimento com a obra de Hergé, autor de Tintin, por intermédio de um padre português, Abel Varzim, estudante de Lovaina, na Bélgica e que conheceu pesssoalmente Hergé, aliás.Georges Remi, nascido em 22 de Maio de 1907.
Hergé, se vivo fosse, faria agora 100 anos.

Antes de ler a primeira aventura no Tintin português de 1972, já tinha conhecido, em 1970-71, uns cromos avulsos, relativos à história Tintin e o Templo do Sol e que serviram como inspiração para os primeiros desenhos que copiei e me deram o gosto da cópia desenhada.
Os desenhos são os que ficam acima.

terça-feira, 15 de maio de 2007

O segundo é triplo



A música dos Nitty Gritty Dirt Band, um grupo americano que passou nos setenta como um cometa pelo country rock, começou por ser apresentada nos programas de rádio de Jaime Fernandes, no Rádio Comercial de meados dos anos setenta.
Em 1976, foi publicado nos USA uma colecânea em LP triplo, intitulada Dirt Silver and Gold.
Até essa altura tinham já saído todos os LP´s mais relvantes da banda que misturava o country com o rock, num estilo que outros anteriormente tinham já ensinado, como os Byrds e os Flying Burrito Brothers.
O que diferenciava os NGDB de outros artistas de country rock, era a maior diversidade e variedade nos temas e respectivo uso dos instrumentos.
No ano de 1975, o LP Symphonion Dream, tinha já servido de mostruário da perfeição técnica do grupo e os temas desse disco são encadeados por pequenas frases e apontamentos musicais que ajudam a passar de um estilo para outro, com a facilidade de um álbum conceptual. O disco, provavelmente, será o melhor do grupo para o meu gosto.
Assim, em 1976, a recolha em triplo LP, de temas dos cinco discos passados, serviu para uma colectânea cujo recheio acertava em cheio no gosto musical da época e por isso o disco é daqueles que é referência imprescindível na minha discoteca particular.
A utilização intensiva de instrumentos acústicos, com predomínio das guitarras secas, de som cristalino em corda de bronze, é um prazer inaudito, inúmeras vezes repetido.
A música dos NGDB atingiu pela primeira vez a atenção, com o tema Mr. Bojangles e a harmónica a dar o tom à voz do cão, cujo leve uivar, em imitação da voz do dono, surge imediatamente antes da entrada dedilhada da guitarra, numa mistura de gravações única na música popular. A canção de Jerry Jeff Walker ganha consistência nova, tal como a de Boudleaux Bryant, All i have to do is dream, no álbum Symphonion Dream, aliás ambas incluídas na colectânea. O tema de Boudleaux Bryant, tem sido interpretado por vários cantores e instrumentistas, ao longo dos tempos, com destaque para os Everly Brothers e Doc Watson, num disco ao vivo de 1979, Live and Kickin´ e ainda Leo Kottke, em 1981, no disco Guitar Music. De todas as versões, a dos NGDB, é a que prefiro, seguida de muito perto pela de Doc Watson.
All i have to do is dream pelos Nitty Gritty Dirt Band, começa com o som da guitarra acústica a que se junta depois o do banjo e da harmónica, antes de os restantes instrumentos acordarem todos com a voz que só entra aos 20 segundos de instrumental maravilhoso, com secção rítmica e guitarra eléctrica, sem nunca deixar o banjo ou a harmónica esmorecerem na mistura do som final. Uma versão perfeita. A de Doc Watson parte com a singeleza das guitarras acústicas a solo, o baixo e a voz em tandem de Doc e do filho Merle. Um pouco menos que perfeita, mas com execução técnica superior.
No triplo LP também se inclui Doc´s Guitar, uma pequena amostra do estilo picking de Doc Watson e o tema Cosmic Cowboy, da autoria de Michael Murphy, um outro epítome deste tipo de música que trata as guitarras acústicas com o som melodioso e fugidio das guitarras de pedal, metalizadas e que atravessam todos os discos de verdadeira música country, com predomínio ainda no country rock.

domingo, 13 de maio de 2007

Over-nite Sensation

O primeiro disco de referência, daqueles que colecciono sempre que sai uma versão melhorada, vem com a oportunidade de escrever sobre uma novidade em dvd.
A editora Eagle Rock Entertainment, que tem produzido algumas obras em dvd musical, numa série intitulada classic álbuns, recupera de catálogos antigos, discos importantes da música popular de expressão anglo-saxónica. Publicou em Abril de 2007, o seu mais recente dvd musical: Apostrophe ( ‘) Over-nite sensation, de Frank Zappa.

O dvd apresenta os dois discos de Zappa, datados de 1974 e 1973, respectivamente, com imagens de alguns temas, tocados em concerto de época, comentados por músicos e familiares.
As imagens dos concertos, apanham alguns temas como Montana, tocado em 1973 e I´m the Slime, tocado em 1976 ( ambos de Over-nite sensation), para além de pequenos excertos de outros temas e a mostra de técnicas de estúdio, apresentadas pelo filho de Zappa, Dweezil, e uma incursão nos célebres arquivos, os “vaults”, de onde têm saído pequenas preciosidades sonoras, após a morte de Frank Zappa, em 1993, com 53 anos.
Zappa é com certeza, o compositor mais interessante de toda a música popular americana. Além da prolixidade das suas obras em disco que ultrapassam a meia centena de originais, os géneros musicais que se podem ouvir, passam todas as variedades de estilo, com destaque para o rock e o jazz, misturados em vocalizações e solos de guitarra sem paralelo no rock.
O disco LP, Over-nite sensation, saído em finais de 1973, foi publicado em Portugal na altura e passava frequentemente no rádio, nos programas nocturno da rádio Comercial, nos meses seguintes.
O disco, é um daqueles que se ouve com toda a facilidade de um clássico da música popular.
O primeiro tema a rolar, é Camarillo Brillo, uma paródia dos hippies, já em desuso, na altura e com uma toada de guitarra que faz lembrar os acordes básicos de Sultans of Swing, dos Dire Straits, uma meia dúzia de anos depois.
A Camarillo Brillo, segue-se I´m the Slime, cujo tema escrito é recorrente na obra de Zappa: a televisão cretinizante. A música compassada e em ritmo que hoje se diria hip-hop, começa com um solo de guitarra, corrido no baixo do braço, a que se junta pouco depois, o trombone e a trompete e os teclados de George Duke, para solidificar a secção rítmica, interceptada logo pelo solo final de guitarra wah-wah.
O tema terceiro, Dirty Love, explora novamente os campos escorregadios do sexo escrito para canções pop e presta-se a mais uma exploração do virtuosismo guitarrístico de Zappa e da sonoridade sottovoce, alcançada por método electrónico, em contraponto aos coros das Ikettes de Tina Turner.
No trecho Fifty-fifty, a voz de Ricky Lancelotti e o violino de Jean Luc Ponty, são as estrelas principais, antes da introdução jazzística de Zomby Woof, uma paródia ao esquisito, com voz de Tina Turner em evidência e teclados de George Duke, num exemplo das variações musicais zappianas.
O rolamento do início do disco, regressa com Dinah-Moe Humm, mais uma paródia de expressão sexual, com rap e ritmo sustentado e música demorada, num dos temas mais fortes do disco.
O último tema, Montana, reúne em si, a essência do disco, com relevo para a participação da vibrafonista Ruth Underwood e o solo de guitarra, longo e em estilo repetido em muitos discos de Zappa, intercala com vocalizações originais, cortadas abuptamente pela intervenção dos metais. A secção rítmica mantém ao longo do tema, o sustento de baixo e bateria que acompanha os restantes instrumentos de sopro e percussão, tornando difícil escrever e traduzir por letras, a sonoridade típica de Zappa, feita de pequenos trechos musicados e ritmados no interior das próprias composições, numa colagem de referências que se repetem de álbum para álbum, numa muito glosada continuidade conceptual.
Ao longo destes mais de trinta anos que ouço Overnite Sensation de Frank Zappa, primeiro no rádio e depois em disco, nunca deixei de pareciar todas as composições do disco.Dá até a impressão que a cada audição, a atenção a este ou aquele pormenor, permite descobrir pequenas sonoridades misturadas no seio do tema principal e pequenas variações de entoação, ritmo ou solo. O dvd recém saído, aliás, só o vem confirmar.