segunda-feira, 26 de abril de 2010

Plágios assumidos

Na entrevista que Donald Fagen e Walter Becker deram à revista americana Musician, de Março de 1981, em oito páginas, em determinada altura o entrevistador David Breskin refere aos dois músicos de Steely Dan se eram familiares com um tema chamado Long as you know you´re living yours, do disco Belonging de Keith Jarrett. Becker responde logo que sim. E acrescenta depois, a uma pergunta da Musician sobre a circunstância de a ter comparado com o tema Gaucho que...não.
E o repórter insiste em referir que em termos de tempo e da linha de baixo e a melodia do saxofone tal se torna interessante.
Becker responde-lhe, encavacado que " Parenthetically it is, yeah". E o reporter escreve que naquela altura deveria passar ao off the record, mas os artistas autorizam o off em modo de escrita on e Fagen refere explicitamente que " we were heavily influenced by that particular piece of music" e ainda acrescentou: " we steal. We´re the robber barons of rock n´roll", indicando que a outra composição no disco que apresenta uma óbvia semelhança com outras músicas é "Glamour Profession" com a música do grupo Dr. Buzzard´s original Savannah band.

Ora aqui estão os corpos de delito. Primeiro o original de Keith Jarrett:



E a seguir, a versão de Gaucho, notoriamente inspirada naquela:



E a sonoridade do Dr. Buzzard original savannah band:



Comparada com o tema Glamour Profession dos Steely Dan:

domingo, 25 de abril de 2010

Steely Dan e Gaucho

O disco em análise na Hi.Fi News com data de Maio de 2010 é o Gaucho dos Steely Dan, um disco originalmente publicado em finais de 1980 e que a revista, como habitualmente, analisa na suas várias versões gravadas, em LP e cd e mesmo, no caso os formatos japoneses, em prensagens de meia-velocidade.
A conclusão da revista é a de que as primeiras prensagens do LP original, são as melhores em termos sonoros, comparáveis inclusivé, às prensagens posteriores em modo audiófilo ( em 1981) pela MCA.
Em cd, cuja primeira edição surgiu em 1984, a melhor versão será a do SACD de 2003 ou a do cd misturado por Elliot Schneider para a DTS, em 1997.


Por causa destas dúvidas sonoras, ao longo dos anos fui procurando o nirvana sonoro que sabia existir no disco Gaucho, gravado com produção de Gary Katz.
Já dei conta neste blog da apreciação crítica a este disco particular dos Steely Dan e do tema particular que me chamou então a atenção quando o disco saiu e era reproduzido no rádio Popular de Vigo, em emissões consagradas ao novo formato digital do cd: Third World Man. Por causa desse tema vim a conhecer todos os demais discos dos Steely Dan e alguns melhores que Gaucho ( Pretzel Logic, de 1974, por exemplo).
Assim, o primeiro LP que arranjei foi no El Corte Inglès de Vigo, em prensagem espanhola, tal como os outros Lp´s do grupo. O som não é mau, mas é menos que perfeito e não tinha as letras das canções na capa interior, o que não acontecia com o LP original, como vim a saber depois. Para descobrir os músicos que tocavam, entre os quais Mark Knopfler num tema ( Time out of mind) foi preciso aguardar meses de pesquisa avulsa.
Anos mais tarde, já nos anos noventa, apareceu a versão do disco em importação da Valentim de Carvalho da prensagem alemã da Warner, à semelhança de muitos outros discos então importados a preços mais baixos que os habituais. A capa desse disco era de qualidade gráfica superior à espanhola ( o que nem era preciso muito porque era algo descolorida e anémica) e além disso tinha as letras das canções impressas na capa interior fina, mas com os músicos todos em evidência. Para este grupo é sempre importante conhecer os músicos que tocam nos discos.
Durante anos foi com estes dois LP´s que referenciei o som dos cd´s que entretanto também arranjei. Primeiro, o cd original de 1984 e depois um outro da Mobile Fidelity, em original Master Recording que se fazia pagar mais do dobro do cd normal. O som melhorado em relação ao primeiro cd, ainda não satisfazia inteiramente e por isso logo que saiu a versão em cd, em 2003, experimentei também, quase me convencendo que estava aí a versão definitiva. Mas não.

Por ler a crítica da HI-Fi news, arranjei agora no ebay, o LP original, em prensagem USA. E de facto é outra coisa e o melhor de todos, cd´s incluidos.

É este o som de Gaucho que prefiro e que admiro e que não me canso de escutar. E esta é uma das experiências mais satisfatórias que pode haver: descobrir realmente esse nirvana sonoro que sabemos existir.



LP original, seguido da prensagem espanhola e da alemã.


Cd original de 1984, seguido da versão da Mobile Fidelity de 1991 e da versão em SACD de 2003, com o anúncio ao LP publicado na Rolling Stone de Janeiro de 1981, na capa que traz John Lennon e Yoko Ono abraçados, numa fotografia célebre de Annie Leibowitz e publicada já depois da morte daquele. Ainda a revista Musician de Março de 1981 com uma entrevista extensa aos dois mentores do grupo, Donald Fagen e Walter Becker, na qual confessam vários plágios na música que fizeram.
A seguir, a comprovação de um deles...

domingo, 18 de abril de 2010

Fora de Órbita



Duas páginas de programação de rádio, da revista R&T de Agosto de 1970 e Janeiro de 1974.

O programa de rádio Em Órbita, começou a transmitir-se em 1.4.1965 e no seu formato inicial, com passagem de música popular de vanguarda ( na época, a de expressão anglo-saxónica, o pop/rock) e com a apresentação de Cândido Mota e a realização, entre outros, de Pedro Soares Albergaria, João Manuel Alexandre e Jorge Gil.
Como se pode ver clicando na imagem acima da revista R&T de época, em Agosto de 1970, o programa transmitia-se das 19h às 21h. Em finais de 1973, havia um Em Órbita dois, a passar às 24 h, no mesmo rádio: o RCP em FM. Anunciava-se nessa altura o aparecimento do Em Órbita que em Junho de 1974 passava já às 19 horas e até às 21h, como anteriormente.
Em Maio de 1971, o programa terminou esse percurso pela música popular e passou a outra forma mais erudita.
Nos anos oitenta, o programa apresentado nessa altura por João David Nunes, passou a focar a sonoridade radiofónica na música antiga erudita e em meados da década, patrocinou inclusivamente a realização de concertos. No caso do tricentenário do nascimento de J.S.Bach ( 1685-1985), a Erato e a Dacapo, produziram um disco duplo, com os Concertos brandeburgueses, de J.S.Bach, pela Orquestra Barroca de Amsterdão, dirigida por Ton Koopman.

Foi nessa altura que o Em Órbita, ( cujo indicativo era o tema último da Deutsche Messe, Schlussgesang) , despertou a minha atenção para esse tipo de música barroca e particularmente Ton Koopman, levando-me a comprar o LP comemorativo ( acima e que se amplica com um clique), com os seis concertos tocados em instrumentos antigos que emprestam à sonoridade uma característica própria e algo anacrónica.

O mesmo Ton Koopman que hoje se terá apresentado no Auditório da Gulbenkian. Provavelmente com a presença de Jorge Gil...e que poderia ser entrevistado agora para falar do seu programa e principalmente do rumor que anda por aí, no sentido de o mesmo guardar religiosamente as gravações em fita, do programa Em Órbita daqueles anos todos.
Se isso fosse verdade e Jorge Gil se disponibilizasse talvez que um mecenas pudesse ajudar à concretização de um sonho: retomar as memórias desse programa ímpar na nossa rádio. Talvez um Teixeira Pinto que agora se dedica a coisas da cultura tivesse memória de Em Órbita. Talvez outros.



segunda-feira, 12 de abril de 2010

Die wahre sache




É este o disco da versão da Deutsche Messe , d872, de Schubert, que procurava. Um pequeno LP ( de dimensão inferior aos demais), com pouco mais de 30 minutos de duração, gravado em 1959, pela Orquestra Filarmónica de Berlim, sob a direcção de Karl Forster ( 1904-1963).

O disco é uma pequena maravilha sonora, mesmo que a fidelidade não seja da mais elevada que é possível escutar ( a gravação stereo é de 1959). E foi um suíço quem mo vendeu, a quem além do mais fico obrigado porque me permite agora escutar, em cassete, porque a gravação analógica é outra coisa bem mais equilibrada que a digital.
A versão actualizada poderá ser esta.


sexta-feira, 2 de abril de 2010

Schubert- Missas

Nos anos setenta e oitenta costumava ouvir o Em Órbita, programa de rádio de Jorge Gil que nessa altura já passava exclusivamente música erudita.
O indicativo desse programa que começava às sete da tarde era uma peça coral, que vim a saber mais tarde tratar-se de uma parte de uma missa alemã de Schubert.
Devido ao tom majestoso e cerimonioso da prestação coral, de grande beleza estética e que suscita uma inclinação espiritual na escuta, procurei durante anos, o disco que a apresentasse do modo como a ouvira nesse tempo.
A busca demorou anos e incursões frequentes em discotecas, à procura do verbete Schubert-Missas.
Em primeiro lugar foi o LP, ainda nos anos oitenta, em prensagem alemã da Acanta, com a versão da Deutsche Messe D. 872 pelo Tölzer Knabenchor, dirigido por Gerhard Schmidt-Gaden, gravação de 1975. A aquisição terá ocorrido na célebre discoteca Santo António, no cimo da rua 31 de Janeiro no Porto e onde ouvi talvez a melhor aparelhagem sonora de sempre, com uma colunas Bowers & Wilkins série 801.( imagem tirada da Rede)

O som que ouvi não me devolveu o que a memória guardava do tempo do rádio Comercial, nos breves segundos do início do Em Órbita.
A parte escutada respeitava sem dúvida ao final Schlussgesang. Um coro em "chave de canto" que terminava a "missa alemã", tal como conhecida mas com a designação D. 872.
Mas não era aquilo. Era demasiado rápido para a versão que conhecia do Em Órbita. Demasiado apressado para a majestuosidade do Schlussegesang que ouvira antes, apesar das entoações dos sopros se lhe assemelharem.
Como não era bem aquilo, procurei outras versões da "missa alemã".

Conforme se vê pela imagem acima, apareceu outra versão em cd, da Ophelia Records e com data de 1988, mas com gravação de 1980, o que manifestamente não poderia ser, porque a versão que ouvira vinha já dos anos setenta. E o som do Final, da Schlusse, da chave, não era bem aquele, porque também demasiado apressado no compasso e diverso no som coral.

Em seguida experimentei a versão em cd da Capriccio, gravação de 1988 e com o Rias Kamerchor , RSO de Berlim, com direcção de Marcus Creed. O Schluss final quase me convenceu porque a versão é muito próxima da que ouvira. Durante algum tempo tive a ilusão de que era aquilo, mas uma audição atenta, levou-me à desapontadora conclusão de que ainda não era.
E procurei em vários sítios, em diversas discotecas em todo o lado onde fui. Em Viena achei que encontraria porque é um sítio onde se comercializa muita música erudita à sombra de festivais e de uma ópera que se manteve idêntica durante os decénios que a sustentam. Mas não encontrei.

E um dia, do ano passado, na FNAC de cá, reparei numa caixinha da EMI Classics, uma compilação de 1988/2007, com gravações antigas.
Uma delas respeita à gravação de uma "missa alemã", de 1960, da Orquestra Filarmónica de Berlim, dirigida por Karl Forster, com o coro da Catedral de Santa Edwige de Berlim.
É esta a versão que sempre ouvi na minha memória e agora canta em CD, neste dia de Sexta-Feira Santa.
A paixão de Cristo numa "missa alemã" que afinal não tem o número de série D. 872 mas sim o D. 621. E por causa disso, andei anos à procura de um som. De um coro. De uma versão musical de uma missa, um requiem, cuja primeira apresentação ocorreu em Viena, em Setembro de 1818.
Uma peça musical sublime.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Genesis- A trick of the tail


Em 1974 os Genesis publicaram The Lamb lies down on Broadway, considerado o disco de referência do grupo, na altura e merecedor de encómios como o de necessitar de várias audições para lhe extrair o sumo sonoro e temático. Foi assim que o disco passou no rádio Comercial de então, apresentado por um divulgador- convidado, salvo o erro João Filipe Barbosa ( que é feito dele?) e que em finais do ano desse ano ou início do ano seguinte ( o disco foi lançado em Novembro de 1974 e por cá demorava mais um pouco a chegar) o apresentou como um disco de importância fundamental, com a sua introdução em arpejos de piano.

Durante mais de um ano foi esse o disco dos Genesis que se ouvia até que em 1976, ( Fevereiro) já depois da saída do cantro compositor Peter Gabriel, o grupo lançou o disco A Trick of the Tail, vocalizado pelo baterista Phil Collins.
Esse LP acompanhou o meu primeiro ano em Coimbra e é de memória relevante nas melodias que o compõem como Entangled ou Ripples.
A versão em LP, na imagem acima, foi fabricada e lançada em Portugal pela Polygram e não tem uma qualidade sonora por aí além, por ter uma prensagem pouco nítida nos sons e que os cd´s lançados posteriormente quase ultrapassam com facilidade.
O primeiro cd ( na imagem por cima do outro) foi lançado em 1984 e tem um som razoável por comparação com o do LP.
O outro cd, lançado em 2007 e que fazia parte de uma caixa com todos os discos, então rematrizados e remisturados, dos Genesis a partir de 1976 ( outra existe até essa data) é uma junção de três formatos e aparece em dois discos. Um deles junta o cd simples em 16 bits/44,01 kHz com a versão em SACD. Noutro disco aparece uma versão em dvd-audio e ainda extras em filme dvd, com gravações de concertos dos Genesis em 1976 e 1977, o que por sí vale a compra.
Para além disso, a versão em dvd-audio é superior à do SACD e à do LP em prensagem portuguesa.