domingo, 27 de abril de 2008

A Face dos ingleses

A revista Face, apareceu nos quiosques, em Maio de 1980. Com a new wave e as músicas revivalistas do ska dos Madness e Specials em dois tons a que se seguiu o tropicalismo de August Darnell e os Kid Creole e as novas tendências de moda inglesa que desabou em Culture Club e quejandos Smiths. Os New Order, também tinham lugar, no novo grafismo inventado por Neville Brody, sob a direcção de Nick Logan.

Algumas capas da Face mereciam a compra. Raramente, os artigos, tinham tanta qualidade como as fotos. Os anos oitenta, representaram uma época de glamour e esperança num futuro europeu.
Até ao final dos oitenta, a revista, aguentou um estilo, associando uma moda ao grafismo de época, sendo certo que começou por imitar os anos cinquenta. Nas cores e no arranjo de páginas. Acabou depois, sem brilho especial, na amálgama dos noventa.































































Em Novembro de 1983, num sinal de pan-europeismo, oito revistas de outros tantos países da Europa, entenderam-se para publicar um número em comum, com capa quase igual, onde predominam o azul e branco: um(a) bebé sorridente e nortenha, enfiada num blusão de ganga, de cabeça para baixo. A Face, era uma delas.
A revista francesa Actuel, outra, ainda sob a batuta do seu antigo director, Jean-François Bizot, falecido recentemente, revista herdeira da antiga versão anarquista, dos anos sessenta-setenta, tinha esta capa que em baixo se mostra. A espanhola, chamava-se El Víbora e tinha sido em tempos, uma revista de Banda desenhada para adultos...
Em comum, as oito partilhavam uma visão idílica e exaltante, duma Europa sem fronteiras e num artigo de Patrick Rambaud, escrevia-se assim:

Desde a idade do bronze até às deprimentes fronteiras modernas, a Europa apenas existiu através dos artistas e comerciantes. A partir do momento em que um soldado se intromete, a Europa esfrangalha-se e fecha-se na concha. Exagero? Abram um atlas histórico e procurem os mapas que figuram a Europa. Os mapas políticos reduzem as nossas regiões a puzzles. Estudem antes os mapas que nos falam da difusão das artes e mercadorias: a arte romana mostra-se desde Winchester a Cefalu, corre de Trondheim, mesmo ao Norte, até Salamanca, tudo ao Sul, Bordéus a Oeste, Zsambeck a Este. Idem para a expansão gótica. A irradiação do baroco abrange mais tarde todas as cidades que se tornaram as nossas capitais. Quanto às grandes feiras do séc. XIII, realizam-se ao mesmo tempo em Novgorod, Francforte ou Troyes.
A Europa, por vezes manifestou-se apesar de Carlos V, apesar de Frederico II e apesar de Bonaparte. Os verdadeiros europeus, são Henrique, o Navegador, os burgueses de Anvers e os de Lyon, Giotto, Newton, Casanova, Mozart o nomada, Goethe, ou o escocês John Napier que inventou os logaritmos..."























Nesta imagem supra da Europa, publicada nesse número da Actuel, a Portugal cabem as sardinhas. E aos espanhóis, a paella.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A capa mais sexy


Capas de discos. A mais sexy? Tirando as de compilações, tipo Fausto Papetti, na música popular, há poucas. Curiosamente, a música popular, em capas de LP´s , foi sempre um pouco recatada nos costumes.
Para mim, a mais sexy das que conheço, é esta que figura acima, dos Jackson Heights, do LP Bump n´Grind, de 1973.
O disco contém uma pérola sonora, uma das melhores canções desse ano: I could be your orchestra. Só por si, vale o disco. E mesmo a capa.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O som nosso de cada dia

O primeiro disco dos Secos & Molhados, um grupo brasileiro, liderado pelo português João Ricardo, tem sido comentado por aqui.
Então, aqui fica o artigo da revista Cinéfilo, de 6.4.1974, no qual um jornalista ( e que afinal, ao contrário do que sempre pensara, não é brasileiro, mas bem português) , James Anhanguera, então por cá e autor do livro Corações Futuristas, ( Regra do Jogo, 1978), escrevia sobre o grupo que publicou esse disco notável e um grande sucesso na época.








































A revista Cinéfilo, aliás, foi uma das mais importantes revistas portuguesas de sempre, no capítulo das artes, cinema, espectáculos e música. Aparecida em 1973, semanal, tinha um aspecto gráfico , da autoria de José Araújo, que era simplesmente fantástico, para o panorama nacional da época. E passados 35 anos, continua a ser um modelo. A Face, inglesa, dos anos oitenta, fica atrás, para mim. O que é dizer pouco de Peter Saville...

domingo, 6 de abril de 2008

Van der Graaf Generator


As duas imagens acima, estão separadas por trinta anos, pelo menos. É o tempo, a passar...

Os Van Der Graaf Generator, tinham concerto aprazado em Gouveia(!), neste fim de semana. O mítico grupo de Manchester ( começou na universidade local), foi sempre um dos meus preferidos, no chamado rock progressivo. A par dos Gentle Giant e dos King Crimson.

Mas os Van Der Graaf, além disso, tinham um nome mais apelativo e uma imagem fugidia que os remetia para a categoria de mito.

No início do ano de 1975, a revista francesa Rock & Folk, escrevia artigos curtos, mas de louvor intrigante, citando temas e discos anteriores que nunca ouvira e que apetecia encontrar. Em Abril de 1975, o crítico Jean Marc Bailleux, relatava que tinha ido até Nova York no encalço do primeiro disco do grupo, atrasado seis anos, em França, e publicado apenas nessa altura. Uma crónica destas, impressiona.

Em Junho do mesmo ano, uma outra crónica no jornal inglês New Musical Express, dava conta dos espectáculos do grupo em...Paris. A imagem associada ao artigo do jornal, foi talvez a primeira que me permitiu ver a cara dos músicos.

Em Dezembro de 1975, a revista francesa Best, publicava quatro páginas com letras de músicas antigas dos VDGG e ainda do novo disco, GodBluff. Com imagens que eram as primeiras a cores, que via, dos membros do grupo, como esta que segue.

Ouvi a música dos Van Der Graaf Generator, pela primeira vez, em meados dos anos setenta. Talvez no início de 1975, mas é possível que tenha sido no final. Por uma razão prática: foi nessa altura que saiu o LP, Godbluff. E foi nessa altura que os VDGG dram vários concertos em paris, na sala Wagram. Como documenta esta foto.

Embora o grupo tenha editado discos fundamentais, até essa altura, e que só ouvi anos mais tarde, por não estarem disponíveis no mercado corrente, foi em finais de 1975 que comecei a ouvir os acordes iniciais de Godbluff que recordo como se fosse hoje.

Na rádio desse tempo antigo e memorável, à noite, por vezes, começava a ouvir-se um som de sopro repetido, seguido durante segundos por um de teclados e uma voz que sussurava “here at the glass...”.

Depois de o escutar por várias vezes, apresentado por Jorge Lopes ou Fernando Balsinha, adeptos do progressivo passado em disco integral, no RCP, corria para o gravador para apanhar o máximo. E o máximo que consegui apanhar nesse tempo, foi o que se passava a seguir a “...farce”. Faltava sempre gravar as duas frases anteriores- “Here at the glass-all the usual problems, all the habitual...farce”. Embora a versão do disco seja superior, pode ouvir-se ao vivo no You Tube. Assim, doutro modo, era o Undercover man.

E a seguir, era o nirvana musical até ao fim do disco, com os Sleepwalkers. Esses temas, continuam a ser, ainda hoje, alguns dos que consigo cantar integralmente, com a letra decorada e tudo. Dezenas e dezenas de audições, nunca lhes subtraíram um átomo de maravilha.

Em finais de 1975, começava a aprender as primeiras noções do que era o Direito. Preferia, sem dúvida alguma, passar na montra das discotecas da baixa de Coimbra e mirar o LP. De capa preta e com um carimbo a vermelho, a dizer, “Godbluff”.

Como não tinha gira-discos, ouvia com gravador portátil. E chegava, nesse tempo. E pedi a uma amiga que comprara o disco para me deixar fotocopiar as letras, impressas na capa interior. Uma fotocópia que na altura ainda cheirava a um odor de fotocópia tipo xerox e que ainda guardo.

Poucos meses depois, na Primavera de 1976, porém, saía o melhor Lp do grupo. Still Life, captou a minha atenção, depois de ter lido na revista Best, alguns dos temas de discos anteriores, incluindo Killer e Man-erg, dois monumentos do rock progressivo britânico e que só ouvi alguns depois, já na década de oitenta e um ou outro, na de noventa.


Por esse tempo, os VDGG já tinham conquistado o interesse total, de modo que a visão do LP, no escaparate, foi como uma visão de um quadro modernista, de um pintor do início do século passado: um deslumbre. Nessa época, os LP´s de música de qualidade tinham lugar de culto nas discotecas especializadas e esse foi dos primeiros discos que me apeteceu comprar só para ter o guardar. Acabei por o arranhar, anos depois, em prensagem original.

A audição desse disco, no Outono de 1976, nas noites de auscultadores, suscitou desenhos, sonhos e lembranças sonoras de grande impressão. Os temas são todos de grande qualidade e o final, grandioso, concentra toda a temática das letras de Peter Hammil: a vida e a morte, com o transcendente por perto. A experiência de audição desses temas, nessa altura e nessas circunstâncias, será provavelmente a mais aproximada, ao transe experimentado pelos adeptos dos paraísos artificiais.

O começo, com órgão ondulante parte para um ritmo encantado, em poucos compassos. O tema My Room, apenas com secção rítmica, saxofone e voz, é uma pequena maravilha de concisão temática e de melodia inesquecível. Um tema de grande luxo sonoro, ouvido repetidas vezes, sempre com grande prazer auditivo.

A música dos VDGG, prescinde, na maior parte dos temas, da guitarra do rock, para dar preferência aos teclados de Hugh Banton e principalmente aos instrumentos de sopro de David Jackson, a grande figura do grupo, a par de Peter Hammil, autor das letras.

No mesmo ano de 1976, outro disco. World Record, alguns meses depois de Still Life, numa sucessão produtiva de qualidade impressionante, foi um disco escutado com o interesse redobrado pelas sensações anteriores de transe sonoro.

O tema final, grandioso, era um achado que nesse final de ano de 1976, soava como uma sinfonia ao novo mundo que em Portugal se prometia e que redundaria em fracasso a breve trecho.

No disco seguinte, de 1977, intitulado The Quiet Zone/ The Pleasure Dome, a experiência fantástica dos três discos anteriores, saía frustrada pela introdução da sonoridade de um violino. Apesar da expectativa, não consegui apreciar o disco , como apreciava os anteriores. O violinista, Graham Smith, do grupo String Driven Thing ( que chegou a vir a Portugal, salvo o erro), emprestava ao disco uma sonoridade não apetecida e por isso, espúria.

Os Van Der Graaf acabavam para o meu gosto, nesse disco.

Porém, faltava descobrir os anteriores. E que descobertas! Todos os discos anteriores, merecem a atenção particular do apreciador de música popular progressiva, a começar logo pelo primeiro.

Além disso, o líder Peter Hammil, entre 1971 e 1975, publicara discos a solo, tão ou mais importantes que os discos do grupo.

Em 1977, ouvia Nadir´s Big Chance. Uma descoberta que me satisfazia a sede de Van Der Graaf. Depois, nos anos oitenta e noventa ( o primeiro disco dos VDGG, The Aerosol Grey machine, foi publicado em cd, pela primeira vez, em 1997), foi a descoberta progressiva de toda a discografia anterior dos VDGG, um dos grupos que mais aprecio na música popular.

No mesmo ano de 1977, a revista Rock & Folk, no número de Agosto, publicava esta crónica de um disco sem referência de maior, a não ser o título The Long Hello e a menção a músicos dos Van Der Graaf.

O disco, ouvi-o uma vez, no rádio da época. Fiquei a lembrar-me de um dos temas, todo instrumental, aliás e com recortes jazzísticos.

Anos a fio, percorri discotecas, perguntei por referências, em vários lados do mundo. Graças á Rede e a este sítio de grande aficionado, descobri que o disco que vira a preto e branco na crítica da Rock & Folk, tinha afinal esta belíssima cor e era a versão francesa do disco que tem outras versões.

E este ano, graças ao ebay, comprei-o. Este mesmo, nesta versão e nesta capa. E ouvi-o, outra vez, tal como há mais de trinta anos tinha acontecido. E lembrava-me exactamente das notas do tema, tal como se as tivesse escutado ontem. Fantástico.