domingo, 24 de janeiro de 2010

Jacques Martin


Na semana que passou, morreu, aos 88 anos, Jacques Martin, o último representante vivo da banda desenhada de "linha clara", a escola belga de Hergé que tinha em Edgar-Pierre Jacobs a outra pedra angular dessa grande casa da banda desenhada.

O autor de banda desenhada começou na revista Tintin, na Bélgica, em 1948, com Alix, o herói da antiguidade clássica que Jacques Martin integrava em histórias realistas e com alto grau de proximidade à realidade histórica conhecida. Em 2002 , foi entrevistado por Eurico de Barros, no Diário de Notícias.

Alix foi publicado na revista Tintin, nos anos setenta, em várias aventuras.

Não obstante, foi com outro personagem que comecei a dar atenção a Jacques Martin: Lefranc, publicado na edição portuguesa de Tintin, logo que comecei a comprar a revista, no início de 1972.
No entanto, nessa altura, já as historietas eram desenhadas por outrém, Bob de Moor, um outro colaborador do Tintin e seguidor da linha clara, belga.

Na revista portuguesa, a história A Toca do Lobo, desenhadao por Bob De Moor, suscitou a minha atenção pelos detalhes realistas das paisagens, carros e cenas de enquadramento quase cinematográficas.
Nessa aventura, o herói Lefranc, um jornalista de investigação, para chegar à "toca do lobo" tem de escalar uma montanha dos Vosges franceses. E aí, ataviado de mochila, cordas e roupa de alpinista, motivou alguns desenhos para estudo de sacos...

No Verão de 1973, a Tintin portuguesa publicou a primeira aventura de Lefranc, A grande ameaça, desenhada e escrita por Jacques Martin, e publicada no Tintin belga, em 1954. A diferença de desenhos e estilo de "linha clara", é notória entre este e Bob de Moor, se bem que a edição de 1973, na capa pelo menos, difere da original.

O rigor geométrico e de pormenor definido, em Jacques Martin, ( imagem abaixo à direita, da primeira prancha de A grande ameaça, no Tintin de 25.8.1973) aproxima-o muito mais de Edgar Pierre Jacobs do que os desenhos de Bob de Moor ( imagem da esquerda, em baixo, da aventura A toca do lobo, no Tintin de 1.4.1972), em si mesmos também um primor de virtuosismo artístico.



sábado, 23 de janeiro de 2010

Kate McGarrigle


Na música popular, de todas as expressões, não há assim tantas artistas femininas, singulares, como isso.

Na pop/rock, o número dos discos que guardei e aprecio, de música composta, tocada ou cantada por mulheres, ainda se reduzem mais.

Sandy Denny, Joni Mitchell, Linda Rondstadt ou Emmylou Harris e Joan Baez, destacam-se entre outras porque tenho discos que aprecio.

Mas há duas irmãs canadianas que ficaram no ouvido, nos anos oitenta, logo que ouvi um ou outro tema no rádio: Kate & Anna Mcgarrigle.

Kate morreu esta semana que acaba, como dá conta o blog das irmãs. Rodeada de paz, tranquilidade e a presença da família, segundo se escreve. Fora casada com Loudon Wainwright III, pai de Rufus, como mesmo apelido e por causa disso, encomendei este disco que não ouço há mais de trinta anos e sei que vou ouvir como se fosse ontem. É o disco do Bicentennial, de 1976.

Por enquanto, ouço dois Lp´s das irmãs, na foto acima, em prensagem de capa original canadiana. O primeiro, de 1975, apenas com o nome das irmãs e o segundo, de 1977, Dancer with bruised knees.
Duas pequenas jóias da música popular, bilingues em algumas faixas, por causa do francês do Canadá e deliciosos de escutar, de uma subtileza musical que só comparo a certos artistas ( como Paul Simon me ocorre agora).
O primeiro, de 1975, é mais que uma pequena jóia, porque um dos melhores discos de música popular, todos os géneros confundidos e com a participação de artistas de grande gabarito como Lowell George, dos Little Feat; Steve Gadd, na bateria; David Grisman; Amos Garrett- autor do solo de Midnight at the oasis, de Maria Muldaur em 1973 e outros.

Por isso, merci beaucoup Kate & Anne Mcgarrigle, pour votre musique.

Thank you for the music.






quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Procol Harum forever



A música dos Procol Harum era assim analisada na revista Rock & Folk de Setembro de 1969, por ocasião da recensão do terceiro disco do grupo, A salty dog:

"A voz de Brooker. As palavras de Reid. O órgão de Fisher. Uma orquestração fabulosa. O resumo de tudo o que pop-music hoje tem de melhor. A combinação perfeita de influências que vão da música clássica ( o wagneriano Wreck of the Hesperus) aos ritmos antilhenses ( Boredom, ao lado do qual Ob la di e todos os rock steady do ska-blue-beat do mundo fazem pálida figura), passando pelo bom velho blues das famílias ( Juicy John Pink). Uma música tanto sólida como delicada, refinada ou swingante, se não é a ideal não anda longe disso. A salty dog não marca o nascimento de um grande grupo, mas, enfim, o seu reconhecimento."

Os três primeiros discos dos Procol Harum, de facto, são obras-primas e dizê-lo passados mais de quarenta anos, significa um reconhecimento apócrifo.
Do primeiro disco, homónimo, ressalta imediatamente o primeiro tema, Conquistador. O segundo é outra maravilha- She wandered through the garden fence- que José Cid ouvir muito bem para compor um single de êxito dos anos setenta.
Mas os temas que seguem, suscitam a mesma atenção sonora, com destaque para Salad days ( are here again) ou o final, Repent Walpurgis.

O segundo disco, Shine on Brightly, de 1968, foi lançado nos EUA com maior sucesso que no UK, por motivos conjunturais, de desinteresse relativo da terra onde nasceram, conforme então se escrevia.
O disco é ainda superior ao primeiro em qualidade, sem falhas do primeiro ao último tema, com destaque para uma composição em cinco partes- In Held Twas in I. A canção Ramblin on é de adição sonora garantida, tal como o era Salad days do primeiro disco.

A Salty dog saiu em Junho de 1969, na Inglaterra. É outro disco de grande fôlego do grupo, havendo quem assegure ser o melhor de todos, o pico da carreira do grupo. Por mim, o segundo é que é.

A partir daí, o disco de 1970, Home, retoma uma linha mais rock e com predomínio de guitarra de Robin Trower, com temas de blues típico e misturas de sons de guitarra com órgão Hammond, uma marca de água do grupo, desde o tema inicial, de 1967, A whiter shade of pale.

O disco seguinte Broken Barricades, de 1971, retoma de algum modo o estilo mais antigo, com músicas como Luskus Delph e o próprio tema Broken Barricades.

Em 1972 saiu um disco ao vivo que se tornou o emblema do grupo para regressar ao interesse público com os temas antigos, como Conquistador, tema de abertura e sem menção ao êxito A Whiter shade of pale.
Depois disso, surgiu em 1973 Grand Hotel, um grande disco a que se seguiu outro do mesmo tom, Exotic birds and fruit.
Em 1975 saiu Ninth, na mesma linha, embora um pouco mais fraco musicalmente e em 1977 saiu o último álbum com interesse elevado dos Procol Harum: Something Magic, um bom disco, eventualmente superior aos dois antecedentes.

Em dez anos, o grupo publicou dez magníficos discos e não há muitos grupos na música popular que o tivessem conseguido.
Aliás, nem lembro de nenhum...com uma única e óbvia excepção e por isso as últimas semanas tem sido uma audição contínua da música dos Procol Harum