domingo, 30 de março de 2008

A Banda de Birmingham


I can´t get it out of my head. Esta música de 1974, dos Electric Light Orchestra, passava no rádio como uma sonoridade estranha, entre os êxitos da época.

Os ELO, criticamente, foram apresentados na época, como uma derivação directa da música dos Beatles, com exploração das variáveis abertas por I´m the Walrus. Tem alguma lógica, mas suplanta a comparação. Os ELO são ingleses e o núcleo fundamental, veio dos Move que tinha uma personagem interessante, que ficou de fora: Roy Wood.

Naquele tema e noutros que se seguiram, a secção de cordas, de uma orquestra clássica, misturada com os intrumentos eléctricos, emprestava um som esquisito a um grupo de rock. As sequências de acordes, levemente dissonantes, suscitavam a curiosidade ouvinte e puxavam a atenção a ouvir mais.

A abrir o disco, a Eldorado Overture, parecia uma banda sonora, de um filme de aventuras. Um Salteadores da Arca Perdida, antes do tempo.

A sequência em andante molto vivace, arrefecia o ímpeto, para dar o lugar sonoro, à voz que cantava logo...Midnight, on the water, em ondulações de vibrato.

A secção rítmica, misturada com os violinos e violoncelos, antes de Jeff Lynn cantar I can´t get out of my head, tornam esse tema musical, um dos mais apreciados da década de setenta e que ainda hoje perdura como interessante e sempre audível, como um clássico.

Os temas seguintes, confirmam o disco como um dos melhores de 1974. Logo no segundo título, Boy Blue, os metais que introduzem a música, conjugam com as cordas dos violinos, em pizzicato e retomando a atmosfera de banda sonora de filme de aventuras. Por altura do oitavo trecho, o rock n´roll, bem batido, lembra o ouvinte que se trata mesmo de um disco de rock.

Mesmo assim, no final, a impressão que fica do disco, é um pouco etérea e estranha, para uma obra de rock.

Quando o ouvi, em 1974, foi uma verdadeira surpresa e ficou estes anos todos, como um dos discos de referência de uma discoteca ideal.

Arranjei o LP, versão original, prensado em Portugal pela Rádio Triunfo, já nos anos oitenta. Depois disso, arranjei a versão em cd, dourado, da DCC Compact e ultimamente a versão remasterizada do cd.

A capa do LP é uma pequena maravilha de referências ao filme O feiticeiro de Oz, com os sapatos brilhantes, de Judy Garland, que remete para a estrada de tijolos amarelos, por sua vez remetendo para o disco de título homónimo , de Elton John, de 1973.

Dois anos depois, em 1976, já soavam novas melodias da Orquestra da luz eléctrica, com o disco New World Record. Do mesmo modo que o Eldorado, todos os temas, repetem as mesmas frases dissonantes, ao conjugarem os metais, as cordas e a sonoridade eléctrica da amplificação da guitarra. A versão do disco, em cd e comemorativa dos 30 anos, apresenta a versão instrumental dos temas que realçam a construção musical característica da banda.

Talvez por isso, Randy Newman, compositor americano, compôs em 1979, o disco Born Again, com o tema The Story of a rock n´roll band, dedicado precisamente, aos ELO e que começa assim:

They were six fine english boys; who knew each other in Birmingham"…acompanhado das variações harmónicas típicas, do grupo, inventando uma tonalidade menor, rebatuda na percussão, para o tema Telephone Line.

No final de 1977, com audição já em 1978, novo disco, duplo e de grande fôlego. Out of the blue, soava como os grandes discos duplos da época: uma sucessão de temas sonoros, com vários hits potenciais. O primeiro disco, ouve-se até ao fim, sem mudar de agulha ou trocar de faixa. O segundo, idem. É um disco que mantém, integrais, as qualidades dos dois anteriores. Com uma capa brilhante e apelativa.

Out of the blue, retoma o conceito gráfico do disco anterior, reformando a referência à decoração de juke box, num objecto voador não identificado, muito em voga na época.

Sucesso garantido. Audição deliciosa. No mesmo mês em que saía Never mind the bollocks, dos Sex Pistols e a compilação Decade, de Neil Young.

Em 1979, na senda do disco sound, um novo disco: Discovery. O ovni, transformado em lâmpada de aladino. Conceito de achado. A música, continua na maravilha, com vários temas de luxo, destacando-se Midnight Blue e Need her love.

Em 1981, o último disco com interesse da banda: Time, com dois temas de antologia: Rain is falling e The Lights go down.

Imagem de Eldorado, retirada da Rede; de Out of the blue, retirada de publicidade, na Rock & Folk de Dezembro de 1977.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Mais música inglesa

Barclay James Harvest é um dos grupos ingleses cuja primeira audição, em 1974, aconteceu no rádio e no programa Página Um da Rádio Renascença, para mim o programa farol, da divulgação das novidades da música popular, em 1974 e 1975.

O tema Child of the Universe, do LP Everyone is everybody else, passava constantemente, no início de 1975. Tal como Mill Boys e Poor boy blues ou Negative Earth.

A música dos BJH, assemelhava-se a uma versão mais singela e menos pomposa da dos Moody Blues. De tal modo que havia quem os considerasse os Moody Blues dos pobres...

Porém, em 1975, esses temas a que se juntavam os do disco ao vivo, Live, desse mesmo ano, eram um regalo auditivo para os apreciadores das melodias e harmonias simples.

Segundo o animador do programa, Luís Filipe Martins, o disco ao vivo, apareceu na altura, com uma versão em quadrifonia, numa percursão do actual surround sound em 5 ou sete canais.

Ao mesmo tempo que passavam temas de Everyone, repescavam-se outros de discos anteriores, como de Once Again, de 1971. Mocking Bird e Galadriel merecem um ouvido atento.

No final desse mesmo ano de 1975, saiu o LP, Time Honoured Ghosts. Um disco que se escuta do primeiro ao último tema, como alguns dos Moody Blues, não se escutam...

Em 1976, o disco seguinte, Octoberon, já não tinha grande interesse, tirando a última faixa.

Time Honoured Ghosts, foi o disco que recuperei agora, na sua versão original, numa das lojas de Londres.

Na época, o jornal Melody Maker, inglês até mais não poder, ( e já desaparecido de circulação) anunciava o disco do modo que segue.

O mesmo jornal, na contracapa publicava um anúncio que sujava as mãos, com a tinta do jornal, a um disco dos Man, Maximum Darkness. Nunca ouvi esse disco, mas só pelo anúncio, sempre tive vontade disso. Uma guitarra Gibson SG ( a mesma usada, por vezes, por Frank Zappa) e um lettering da capa, a fazer lembrar o ilustrador Rick Griffin, autor do logotipo da Rolling Stone. Para mim, costumava chegar para ouvir um disco. Mesmo que fosse apenas a ler...ou a ver, como é o caso.


quinta-feira, 20 de março de 2008

Música inglesa ( do lado da Escócia)



No Outono de 1978, lembro-me bem de ouvir a música do LP City to City, de Gerry Rafferty.
O disco, vale todo pelas excelentes melodias e produção esmerada. O primeiro lado, ouve-se de fio a pavio, porque todas as canções são memoráveis, como num antigo disco dos Beatles.

Em 1978, Right down the line, fazia o pleno, da melodia com o ritmo e voz açucarada em tom mascavado, de Gerry Rafferty. Baker Street, de saxofone rompante, marca o disco como bem inglês, mas com sonoridades americanas, audíveis na belíssima Island, penúltima do lado dois do LP.

Durante vários anos, andei à procura da versão original do LP saído há trinta anos. Encontrei-o agora nos discos usados de Londres, perto de Portobello e não muito longe de Baker Street. E estou a gravá-lo em cassete, para ouvir como deve ser, quando entender, sem gastar o LP que ficará para gerações a seguir.
Belíssimo disco. Trinta anos em cima, nada lhe retiraram ao prazer auditivo que convoca. Tal como a revisão de Baker Street, tipicamente londrina e que ainda faz lembrar o tema Baker Street Muse, do LP Minstrel in the gallery, de 1975, de outro grande disco inglês: Jethro Tull



As imagens acima, foram retiradas da Rede.

As que seguem, foram retiradas das revistas Crawdaddy e Rolling Stone, da época- Agosto de 1978, um grande mês, de maravilhas inesquecíveis. A publicidade ao disco e o artigo crítico, referem também os Stealer´s Wheel, grupo anterior que gravou três discos entre 1972 e 75, com sucessos como Stuck in the middle with you e formado por Gerry Rafferty e Joe Egan .


terça-feira, 18 de março de 2008

Livros e discos de Londres

O périplo de Londres, pelos locais de livros e discos, precisa de guia. O guia fornecido pelo "filhote" e pelo "ié-ié", foi de utilidade certa, para encontrar os lugares exactos. Tal como em Paris, os sítios de venda de discos usados e antigos, se concentram no Quartier Latin, assim em Londres, se concentram alguns dos mais interessantes, em Notting Hill, com descida para Portobello Road.
Ao sair do Tube, com milhentos turistas em busca do mercado ao ar livre, depara-se logo com a imagem desta pequena livraria:


Bem perto, uma série de lojas do género. Na Soul & Dance, arranjei o disco de Smokey Robinson, Smokey, de 1973;


No mesmo sítio, em loja ao lado, vários discos, vistos pela primeira vez: Maria Muldaur e o Waitress in a donut shop, de 74; Chris Hillman e Slippin away, de 1976; Clifford T. Ward e Mantle Pieces, de 1973. Possivelmente, o disco que contribuiu para a vinda do artista, já falecido, a Portugal, no ano de 1974.
Ainda um disco de 75, dos Barclay James Harvest, Time Honoured Ghosts que contém o tema Titles, todo ele em colagem de letras de canções dos Beatles.
Um outro de 1978, de Gerry Rafferty, City to City e que contém, Baker Street.

Este disco de Gerry Rafferty, a par do London Town, é um dos mais memoráveis desse ano de 1978. Música mainstream, é certo. Perto da pop. Mas sempre presente, quando me lembro da época. Tenho o disco em cd e Lp, numa prensagem posterior. Precisava por isso, da original...


As duas imagens que seguem, mostram os sítios onde me perco, com maior facilidade: só depois de passar a pente fino todos, mas todos, os exemplares à vista, é que abandono o local. E que ninguém fale comigo, nessas ocasiões. Costumam ser momentos de transe. Deliciosos, claro.

Esta imagem que segue, é da livraria Hatchard´s, em Picadilly. As estantes à vista, são todas consagradas à música popular. Organizada por ordem alfabética. Não conheço nada mais completo, em lado algum. E ainda assim, faltam coisas.
A Hatchard´s tem cinco ou seus pisos. Como a Hatchard´s, ou quase, há outras livrarias em Londres. Entrei em algumas. É um mundo que Portugal ainda não conhece.

Os pubs

Os pubs de Londres, segundo me foi dado ver, são locais de grande convívio, alguns em relativo sossego, outros em ruidoso ambiente. A cerveja e também o vinho, branco e tinto, servem-se a rodos. Os copos, por vezes, ficam meio-cheios...
Há vários pubs dignos de visita e que se vêem, à medida que se passeia nas ruas. Este, com imagens, fica em Knightsbridge e a figura de Paxton, lembra o cantor Tom Paxton, em Peace will come.

A cerveja é boa, para quem chega com sede, mas não excede a qualidade de outros lados. Parece que há vários tipos e para quem conhece, alguns lugares de culto. Um deles, será o Lamb, perto de Covent Garden. Procuramos a Rose st, mas não encontramos. Fica para a próxima que o tempo estava de forte cacimbo e convidava, antes, a recolha caseira.
Andar em Londres, a pé ou de autocarro, cansa. Como em todo o lado, aliás. Mas durante horas a fio, sempre a mirar os lugares, feito basbaque deslumbrado, cansa na mesma.




Londres à beira rio

A imagem que segue, tem um corvo no cimo da árvore. Os corvos da Torre de Londres, são célebres. Segundo reza a lenda escrita nos folhetos turísticos, quando saírem da Torre, esta cairá. Enfim, a imagem de um corvo no centro de uma cidade, depenicando na árvore, é algo que só em Londres se vê, parece-me.


No caminho da Tate Modern, com exposição tipo Beaubourg de Paris, encontra-se este lugar de recolha dos aguarelistas devotados. Vale a pena entrar.

Logo a seguir, o Globe Theatre de Shakespeare, com um portão curioso e turistas a monte.


Cidade de Londres



Uma primeira imagem da cidade de Londres, depois de sair do metro de Tower Hill, é da alameda que conduz à rua da ponte da Torre.
Esta torre, é celebrada em disco dos Wings, de Paul McCartney e de 1978, precisamente intitulado London Town e recheado de músicas de grande categoria que agora fazem trinta anos. Um disco de grande referência nas minhas memórias particulares e que serve de introdução a uma pequena série de apontamentos sobre a cidade de Londres, em poucos dias de visita, mas que me deixou embasbacado. Estava à espera de uma cidade com pouco para ver e deparo com um mundo por descobrir.
A minha primeira imagem de Londres, depois de sair do Tube, é esta, mas de noite:
A torre e a barbacã imaginada e a alameda que conduz à casa de onde se pode ver a paisagem que a próxima foto mostra: um dos canais de Londres e que desembocam em marinas pequenas, com barcos que parecem não caber no local nem de lá saírem. Descobrem-se depois as pequenas pontes levadiças que permitem a intersecção dos canais com as marinas. Belíssimo.



Esta imagem, é a primeira do dia, da casa onde ficamos. Mostra um dos canais que segue para as marinas e docas.
As docas, onde param dezenas e dezenas de barcos de grande luxo.



Esta imagem, cliché turístico, concentra o que de específico encontrei no local: o autocarro vermelho, símbolo dos transportes públicos, eficazes, na cidade; a torre do relógio que marca quase meio-dia; os edifícios do Parlamento; as ruas asseadas e os turistas presentes. A roda gigante do Olho de Londres, aparece por trás.


Minus Zero, em Londres

Duas imagens de Londres, do mesmo sítio e de Sábado passado: uma loja de discos antigos, chamada Minus Zero, dirigida por dois indivíduos, um deles chamado Bill Forsyth. O qual manda recomendações para um certo "filhote" que escreve comentários no blog do Ié-Ié.




segunda-feira, 10 de março de 2008

As vozes mais femininas no rock

Linda Rondstadt, é seguramente, outra das vozes femininas que mais aprecio, desde que a descobri, algures nos anos setenta, algumas canções como The Tracks of my tears, do LP Prisonner in Disguise, de 1975 ou The Tatler, do ano seguinte e do LP Hasten down the wind.


Em 1976, a revista Rolling Stone, mostrava-lhe as pernas, belíssimas aliás, em companhia de vários maduros do rock californiano, com sucesso garantido nessa época: Eagles e Jackson Browne.

Foi por isso que os discos seguintes, foram semore interessantes e com músicos de estúdio de grande valor. Living in the USA, foi Lp que comprei , com gosto de ouvir todas as canções, destacando White Rythm n´Blues e Moahmed radio.

Em 1982, o disco Get Closer, foi logo ouvido com todo o gosto porque é a continuação daquele, com músicos e gravações de alto gabarito. Talk to me of mendocino, The moon is a harsh mistress marcam o fim do estilo country rock da cantora. A seguir, música com grandes orquestras e produção de luxo asiático. Desisti, depois de Lush Life, em 1984. E voltei a interessar-me com o disco Trio, de 1987, em parceira com duas outras cantoras da música country- Dolly Parton e Emmylou Harris. Uma grande disco que retomou os temas de country em modo tradicional e em estilo country-pop.

Foi então que descobri que afinal ainda havia outra Linda Rondstadt. A dos tempos recuados dos finais dos anos sessenta. Meia dúzia de discos, com temas do mais alto interesse e de tonalidade completamente diferente dos discos vindouros. Como em long long time.

O Lp Different Drum, de 1974, é o exemplo e Some of Shelley´s blues, a sequência exacta para a canção anterior, Up to my neck in high muddy water. Duas grandes, enormes canções cantadas de modo único e irrepetível, na carreira de Linda Rondstadt. E os anos passaram...

As vozes femininas no rock


Em 1974, uma das canções que me faziam ouvir o programa de rádio Página Um, era Midnight at the oasis. A voz feminina, de Maria Muldaur, era uma delícia de timbre numa pequena maravilha de apresentação sonora.
O solo de guitarra, que dá ênfase ao tema do oasis à meia noite, com inflexões arabescas, tinha a marca de um guitarrista que desde então, está condenado a repetir o célebre solo, como se demonstra no You Tube, à simples menção de Amos Garrett.

O disco, todo ele, merece audição atenta, pela frescura dos temas, todos de empréstimo mas de grande qualidade. A seguir ao oasis, vinha no programa do rádio, o tema "don´t you feel my leg". Mesmo nesses tempos recuados, a voz feminina de Maria Muldaur e a menção à anatomia difusa, mostrava um aspecto importante das vozes femininas no rock: a sensualidade.


domingo, 9 de março de 2008

Canções como chave da vida


Yester me, Yester you, Yesterday, foi a música que me indicou que a voz da pop, também tinha tonalidades de negro. Em finais de 1969, a canção era notória, no rádio da época, bem como o nome que a trazia: Stevie Wonder, preto, cego e de voz inconfundível, atravessou o panorama da pop, saindo do ghetto. Tal como Otis Redding o tinha feito antes com Dock of he bay.

Antes desse ano, já outros negros de alma brilhante, tinham mostrado a verdadeira cor do som: universal. Os Milagres de Smokey Robinson, com The track of my tears e My Girl, tinham mostrado o firmamento perfeito da pop, em anos anteriores, mas não tinham deixado marca no interesse. Idem, para Aretha Franklim ou outras Supremas intérpretes que gravavam para a etiqueta Motown. Idem, aspas, para Percy Sledge, com o clássico When a man loves a woman, ou mesmo com Ray Charles e os seus clássicos das canções modernas de country and western, com uma das canções maiores de toda a música popular: I can´t stop loving you.

Al Green, surgiu depois. Como Marvin Gaye ( What´s going on e Midnight Love) , Curtis Mayfield( Jesus), Smokey Robinson ( Pure Smokey, Warm Thoughts e Being with you) . Prince ( Around the world in a day), Randy Crawford ( Nightline) Roberta Flack ( Feel like making love).

Praticamente, toda a atenção à luz para música pop marcada pela cor, surgiu depois de Yester me, yester you, yesterday, de Stevie Wonder, no início da década de 70.

Em 1973, com Innervisons, estalou polémica entre defensores de Stevie e de mister Brown, James.

Innervisons, é um dos LP´s dos setenta, perfeitos, na música, letra e ambiente. A canção Living for the city, é uma das canções do ano e passava no rádio, com a frequência já modulada pelos tempos novos que se aproximavam a passo de gigante. É uma canção de protesto suavizado pelos instrumentos de Stevie, todos tocados pelo músico, nessa canção.

Em He´s a misstra know-it-all, só baixo lhe falha, embora toda a música seja de grande luxo, com uma melodia bem achada.

A guitarra acústica de Dean Parks, faz jus a uma boa aparelhagem nas subtilezas de Visions.

Que tinha James Brown a propôr nessa época? Funk. Baixo e ritmo, em cadência dançante. Com força de voz e inflexões de sexo em modo maquinal.

A música de James Brown, seduziu-me uma vez e de modo curioso, já nos anos oitenta. Num acaso de rua, calhou ouvir Sex machine, a passar, num carro com as janelas abertas e o som de muitos watts, a saltar pelos forros e portas fechadas. O poder do baixo, alimentado a amplificadores de grande potência, fizeram-me estancar e ouvir por alguns momentos um dos sons mais poderosos que até então ouvira. E desde então, nunca mais ouvi igual e percebi nesse momento a magia do som de Brown.

Por isso, em 73, Innervisions era superior a Brown, nos meus ouvidos. Três anos depois, em 1976, Stevie Wonder publicava a sua obra prima absoluta: Songs in the key of life. Um opus magnum, em duplo Lp, com Ep junto e canções de luxo em repetição, desde a primeira faixa, Love´s in need of love today, até à última, Another Star. Não há uma única canção no duolo LP que seja de qualidade menor. 17 canções, mais quatro de bónus, de um disco único na discografia pop.

Songs in the key of life, de 1976, é um disco de um génio da música: Stevie Wonder.