segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Milton Nascimento

Não me lembro bem de quando ouvi pela primeira vez a música de Milton Nascimento. Talvez logo a seguir ao 25 de Abril de 74, por causa de um álbum ao vivo, publicado nesse ano e chamado Milagre dos Peixes ao vivo, para se distinguir do disco em estúdio com o mesmo nome e do ano anterior. Lembro-me porém de considerar desde essa altura Milton Nascimento como um dos maiores músicos e cantores que conheço e admiro. Com uma voz única e de timbre fabuloso.

Não obstante, durante a década de setenta tomei conhecimento com alguns temas dispersos dos discos que foram saindo e eram divulgados no rádio, tal como aconteceu com o Milagre dos Peixes, cujo tema San Vicente ( aqui numa versão impressionante) sempre me encantou.
Tal como aconteceu com outras músicas de outros autores, antes de as escutar tinha-as lido e relido na revista Rock & Folk.
Numa recensão de discos do número de Junho de 1976, aparecia o disco Minas e o que o crítico dizia do mesmo era simplesmente fantástico para se perder a audição. "Cette voix qui est- je pèse mes mots-la plus fantastique voix d´homme que l´on peut entendre aujourd´hui." E "Minas como Minas Geraes d´où est issue le plus grand génie de la musique du Brésil ( seul Egberto Gismonti saurait lui être comparé). Au point de vue chant pur, Nascimento ne saurait trouver de concurrents que chez les plus parfaits vocalistes indiens."
E mais: " Pas besoin de vous dire que les textes- pour ceux qui ont la chance de comprendre la plus belle langue du monde, chance que je leur envie- ont la réputation d´être des sommets de poésie contemporaine."
Com estas críticas, fervia sempre de impaciência durante anos, sempre que me lembrava e ouvia no rádio, para encontrar os discos onde vinham estas maravilhas que lia. Por cá, na altura não havia importação que me lembre e só mais tarde, já em finais dos oitenta passou a ser possível ver e ouvir os discos,

Nessa altura, em 1976 saiu também o LP Geraes que tinha várias pérolas musicais, incluindo uma canção religiosa fantástica- Cálix Bento- que ouvi provavelmente num programa de José Nuno Martins, sobre música brasileira, Os cantores do rádio, segundo julgo e que foi um espaço radiofónico de grande divulgação da mpb, passando todos os géneros e discos da altura. Quem os ouviu nunca mais esqueceu, pela certa, tal como nunca mais esqueceu certas músicas e discos.
Por isso, em Janeiro de 1978, foi com grande curiosidade que li a crónica de duas páginas da revista R&F e que fazia o apanhado da discografia do músico brasileiro até essa data, com considerações sempre ditirâmbicas a propósito da qualidade dos discos, com destaque particular para Clube da Esquina e Milagre dos Peixes. Discos que só alguns anos mais tarde ouvi integralmente ( na verdade, Milagre dos Peixes, só ouvi em cd há pouco tempo).
Mas do LP Minas que comprei ainda na discoteca Tubitek no Porto, nos anos noventa, depois de ter conseguido anteriormente a gravação em cassete vinda do Brasil. Desse LP, em prensagem brasileira de 1985 ( a versão original segundo aquela revista conserva um encarte em papel de luxo, com as letras) saiu a canção emblemática de Milton: Saudade dos aviões da Pan Air. E do LP Clube da Esquina nº 2 que saiu em 1978, foi com grande satisfação que ouvi pela primeira vez, no rádio, o tema Cancion por la unidade latino-americana, com a participação de Chico Buarque, a cantar em espanhol. É uma canção fabulosa, tocada num ritmo misturado de percussão brasileira e que confere uma beleza que sempre me impressionou.
Foi assim que em 1980 apareceu Sentinela, talvez o melhor disco de Milton Nascimento e em LP que já comprei na devida altura, numa prensagem excelente, portuguesa, da Polygram. Mais recentemente comprei o primeiro disco de Milton, Travessia, um original de 1967 e que foi publicado em Portugal, pela mão de José Nuno Martins que escreveu a apresentação na contra-capa, em 1979.




segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Rory Gallagher

Um dos álbuns que em 1975 faziam parte da lista dos mais desejáveis, era este Irish Tour´74 de Rory Gallagher.

É um dos melhores discos ao vivo que conheço, com uma energia em dose dupla, nas quatro faixas dos LP. Blues, country-blues, guitarra acústica, dobro e um domínio do fraseado bluesesco na guitarra Gibson...ehh...Fender Stratocaster. E também na Telecaster.

O Página Um dos primeiros meses de 1975 passava este disco vezes sem conta e habituei-me de tal modo ao som da guitarra em consonância com os teclados de Lou Martin que o som do LP ainda hoje é a referência que guardo na memória.

O dvd com o título do concerto saiu em 2000, sendo uma mostra do espectáculo e dos bastidores do concerto em modo de documentário, com a sonoridade excelente e com o bónus de se poder ver Rory Gallagher a dedilhar a Martin acústica como poucos que conheço, mostrando como se toca em pickin e slide, na dobro National, o tema As the crow flies baby.

Rock & Folk, 14, rue Chaptal

Em Maio de 1975, com maior probabilidade já em Junho, comprei a Rock & Folk com capa que abaixo se mostra. Era o nº 100 da revista que comprava desde o Outono do ano anterior e na capa aparecia uma figura menor do rock, Alice Cooper que então ( e agora) pouco me interessava musicalmente.

Mas o recheio da revista prometia, com artigos sobre o "rock alemão", Nova Iorque e Deep Purple e as recensões críticas de discos- ChicagoVIII, Rick Wakeman ou Bad Company. E uma reportagem fotográfica sobre os bastidores da redacção da revista.
Ao longo dos meses, habituara-me já a ler alguns dos melhores críticos de rock que conhecia e foi com curiosidade que descobri o aspecto de um François Ducray, ou os directores Philippe Paringaux e Philippe Koechlin, para além do enfant-terrible Philippe Manoeuvre, num autêntico reinado filipino porque este já dava cartas na escrita da revista e actualmente a dirige.

Na página de apresentação, uma foto com a legenda 14, rue Chaptal, em Paris. Uma rua mítica conforme se pode ler agora.

Na página 43, uma lista de discos que se vendiam por correspondência. Alguns dos melhores discos de sempre, da música rock aí figuram, porque o rock, no dizer de um dos directores da revista ( Paringaux) teve a sua idade de ouro, entre 1965 e 1975.

Na altura passava longas horas a reler estas revistas e a sublinhar os discos que gostaria de ouvir repetidamente, em LP´s que gostaria de ter. Nesse mês, qualquer coisa como 309 francos já me tornaria um ouvinte satisfeito. Com o franco a cerca de 5$00, daria 1 545$00...mais portes. No ano seguinte, no Outono, compraria uma guitarra acústica, parecida com as que via na revista, por 3 600 pesetas. Qualquer coisa como 1 500$00...




Estas férias tive oportunidade de visitar a cidade e fui à descoberta da Rue Chaptal e do seu número 14. Não existe já, o número enquanto morada. Porque era um pequeno pavilhão interior ao edifício que se vê do lado direito a meio da rua, antes do arvoredo. No mesmo local, no nº 16, funciona ainda uma dependência administrativa, segundo julgo, da firma Gibson. De guitarras, claro.