domingo, 23 de junho de 2013

Frank Zappa- as primeiras composições, strictly genteel

Para além de The Adventures of Greggery Peccary, ouvido em repetição e provavelmente o mais ouvido de sempre, tema conhecido de Studio Tan, apareciam em Läther outros temas que viram o vinil anteriormente, particularmente no disco com gravações ao vivo,  Zappa in New York, lançado em 1979.
Uma delas suscitou atenção - Titties ´n beer. Por isso o primeiro lp que tentei encontrar depois de voltar a ouvir Läther, foi Zappa in New York, na prensagem original americana, da Discreet. Descobri então que o alinhamento dos temas nesse duplo álbum diferia da versão original, existente e rara que incluía pelo menos dois ou três temas que não aparecem depois na segunda prensagem dos lp´s: Punky´s Whips, I´m the Slime e Pound for a brown, para além de misturas diferentes das canções.  A versão original, final, acabou por sair com a reedição do cd em 2012, pela Zappa Records.
A disparidade de versões açulou a curiosidade em procurar outras versões de temas antigos repetidos em discos posteriores, sob o lema da famosa "continuidade conceptual".

Em Läther aparecem alguns temas que foram repetidos noutros discos, como por exemplo For the young Sophisticated, originalmente aparecido em Tinsel Town Rebellion, lp que procurei a seguir, para comparar e em boa hora porque o disco trazia outras surpresas como os temas The Blue Light que Zappa tinha dito em entrevistas ser um dos mais difíceis de executar, ou Brown shoes don´t make it que aparece originalmente no disco Absolutely Free, de 1967 de que tinha um cd mas não o lp que arranjei posteriormente e que vale bem a comparação.
Também o tema Big Leg Ema aparece em Zappa in New York e originalmente aparecera em Absolutely free, mas apenas na versão em cd, de 1995, da Rykodisc. E aparecera pela primeira vez num lp fora do catálogo "normal" do músico porque apenas editado em Inglaterra em 1975 num disco em mono dos Mothers of Invention conhecido como "transparency" por causa do diapositivo da capa. Porém, a versão de Läther é diferente da versão de Zappa in New York.
Ora foi esta diversidade de versões do mesmo tema que fez com que  me interessasse na comparação.
 E outra composição que aparece em Läther e é do disco Orchestral Favourites, de 1979,  permitiu essa comparação aprimorada- Pedro´s Dowry que em Läther tem a mistura stereo em reverso e aparece igualmente num outro disco que ainda não ouvi- London Symphony Orchestra I.
Outro tema que suscita a comparação é Duke of Orchestral Prunes cuja composição aparece originariamente no lp Absolutely Free em três variações e com o título abreviado de Duke of prunes, uma das melhores composições desse disco, um dos melhores também, de Zappa. Aparece igualmente em Orchestral Favourites e no cd Strictly Genteel, saído em 1997 e que então comprei e depois fiquei pasmado com a composição com o mesmo nome.

Strictly Genteel foi a primeira composição de Zappa, orchestral e sinfónica a obrigar-me a ouvir as demais versões porque há várias.

A primeira versão, original aparece no lp 200 Motels, de 1971 e que comprei em França há uns anos. Não tinha reparado no tema porque o disco é de difícil audição para quem não goste de toda a música de Zappa e na altura era esse o meu caso. Mas já não agora porque esse tema é muito interessante nessa versão e a que aparece a seguir é no lp Orchestral Favourites, de muito boa qualidade acústica, melhor que no 200 Motels. Depois aparece igualmente uma magnífica versão ao vivo, no cd You can´t do that onstage anymore, vol. VI publicado pela Zappa Records e derivado de gravação ao vivo em Nova York no dia 31 de Outubro de 1981, o célebre concerto de Halloween que está registado em video e pode ver-se no  The Dub room special.
Também aparece numa magnífica versão no lp Zappa London Symphony Orchestra II, gravada em 1983 e no cd Make a jazz noise here, em versão idêntica à do cd Strictly Genteel.
Portanto todas essas versões se ouvem com agrado, tendo-as por isso gravado em sequência porque é uma das melhores composições de Frank Zappa.

Outra que merece igual atenção e tratamento é Dog Breath (variations) que aparece originalmente em Uncle Meat, de 1969 e depois é aproveitada em Just Another Band from LA de 1972, no cd YCDTOSA nº 2, ao vivo no célebre concerto de Helsínquia de 1974 e no último disco de Zappa em vida, o cd The Yellow shark, de 1993 e gravado em 1992. Tal versão aparece igualmente no video The Dub room special.

Por causa dessas comparações acabei por arranjar os primeiros lp´s , com excepção do primeiro que não suscita tanta atenção como os seguintes, e com particular ênfase para o disco We´re only in it for the money que se escuta como uma sequência de pequenas composições geniais, capazes de fazerem do lp um dos melhores do músico.
Por outro lado, as edições originais da Verve ou da Bizarre/Reprise ( a partir de Uncle Meat, de 1969) e depois da Discreet, a partir de Overnite Sensation, são as que melhor soam, para além de terem capas quase todas duplas ( com excepção de Weasels ripped my flesh, Waka Jawaka e Apostrophe (´) )e dignas de apreciação.

Strictly Genteel, a composição que originou esta revisitação à música de Frank Zappa e à descoberta dos primeiros discos do músico é um tema original que se assemelha de algum modo a Sofa, de One size fits all. Começa pela introdução falada de um dos actores do filme ( e que no video se vê a pronunciar essa introdução "at the end of the movie"), o actor Theodore Bikel, suposto mefistófeles e que enquanto vai falando se ouve em fundo  os primeiros compassos sinfónicos de uma música reminiscente em andamento quase adaggio, com as quatro notas fundamentais, em crescendo, um do mi sol...si, ou variação noutro tom, compassadas e em marcha solene, adequado ao finale do "movie".
A peça está documentada no filme 200 Motels e apesar da fidelidade musical não ser das mais elevadas ( gravação de 1971, mas ainda assim inferior ao resultado técnico e sonoro de outros discos anteriores, como Hot Rats), a música é majestosa em função da intervenção orquestral, no caso a Royal Philarmonic Orchestra dirigida por Elgar Howarth e com gravação datada de Janeiro e Fevereiro de 1971.
O tema foi posteriormente repescado em actuações ao vivo sendo de salientar as dos anos oitenta, particularmente a de 1981, no concerto de Haloween e não desmerecendo nada do original, a versão gravada pela banda Zappa plays Zappa, orientada pelo filho do compositor, Dweezil, em anos recentes e com concerto documentado em dvd em que se reunem antigos colaboradores de Frank Zappa como Napoleon Murphy Brock e Terry Bozzio, o baterista que canta Punky´s Whips no disco Zappa in New York, na versão original de 1977, mais tarde censurada e que só aparece agora em cd ou em lp´s raros que se vendem na ebay a preços proibitivos.



sábado, 22 de junho de 2013

Frank Zappa- os primeiros discos e Läther

Frank Zappa terá escrito cerca de 600 canções, ao longo da sua vida e segundo declarou na sua biografia The Real Frank Zappa, escrita com a colaboração de Peter Occhiogrosso, em 1990.

Dessas centenas de canções terei ouvido meia dúzia, reconhecíveis,  até meados dos anos setenta e quase todas de dois lp´s, Overnite Sensation e Apostrophe, seguido depois de One size fits all, de 1975. Com a saída de Zoot Allures em 1976 e Studio Tan em finais de 1978, o leque alargou-se um pouco mais, eventualmente para o dobro e ainda assim os discos seguintes,, Sheik Yerbouti e Joe´s garage, de 1979 acrescentaram pouco mais.

Foi apenas na primeira metade dos anos noventa, com o lançamento dos cd´s pela Rykodisc, rematrizados pelo próprio Zappa e cujas matrizes também tinham servido para o lançamento das caixas de recolha da discografia publicada de Zappa, intituladas The Old Masters, Box nº 1 , 2 e 3, publicadas entre  1985 e 87 ( que me lembro de ver numa discoteca do Apollo 70 em Lisboa), que passei a ouvir as outras músicas de Zappa, mais antigas e ao mesmo tempo as versões alternativas e ao vivo de canções já publicadas noutros discos.

Ainda assim, os primeiros discos de Zappa, publicados entre 1967 e 1972, nas etiquetas Verve e Bizarre/Reprise, não os ouvi senão muito mais tarde, em cd e nem todos. Até há pouco tempo desconhecia integralmente os discos Uncle Meat ( Bizarre/Reprise, de 1969); Lumpy Gravy ( Verve, de 1968); Burnt Weeny Sandwitch ( Bizarre/Reprise, de 1970); Hot Rats ( Bizarre/Reprise, de 1969); Justa another band from LA ( Bizarre/Reprise, de 1972); The Grand Wazoo ( Bizarre/ Reprise, de 1972);  Bongo Fury ( Discreet, de 1975); Tinseltown Rebellion ( Barking Pumpkin, de 1981); Orchestral Favourites ( Discreet, de 1979) Francesco Zappa ( Barking Pumpkin, de 1984); Frank Zappa meets the mothers of prevention ( Barking Pumpkin de 1985); Jazz from Hell ( Barking Pumpkin, de 1986); Zappa London Symphony Orchestra ( Barking Pumpkin, 1987); Broadway the hard way ( Barking Pumpkin, 1988) para além de outros que saíram em cd.

Os três primeiros- Freak out, Absolutly Free e We´re only in it for the money- só os ouvi em cd e incluidos numa caixa de recolha, tendo na altura prestado pouca atenção, considerando-os pouco mais que um documento histórico. Recentemente ouvi todos esses discos em vinil e na versão original dos lp´s em prensagem americana. Fantásticos, todos os discos é o que se pode dizer. Passei já meses a ouvir repetidamente e nunca me canso de ouvir, principalmente esses primeiros lp´s, particularmente Absolutely Free, de 1967 e We´re only in it for the money, de 1968 e que reproduz ao contrário o estilo da capa de Sergeant Pepper´s dos Beatles, do ano anterior.

Nos anos noventa, aquando da saída dos cd´s da Ryko disc comprei uma colectânea chamada Läther, publicada originalmente em três cd´s em 1996. Na época ouvi algumas vezes, poucas e fixei um ou outro tema, sem repetição. Ao ler as notas de capa do cd, num pequeno livreto tomei atenção à história da colectânea: originalmente gravados para lançamento como album quádruplo em 1977, era tido como o Great Lost Frank Zappa album, à semelhança de um Smile dos Beach Boys.

Há uns meses, dei mais atenção à audição dos discos e foi como que uma pequena revelação, o que ouvia. Para além da repetição de temas conhecidos, como o fantástico  Greggery Peccary, publicado originalmente no disco Studio Tan ( saído sem autorização expressa de Zappa, por causa do conflito com a Warner Brothers que durou vários anos) é um dos temas-chave da genialidade de Zappa.

Posso contabilizar já dezenas e dezenas de audições desse tema que dura mais de vinte minutos de pequenas maravilhas sonoras e que me surpreende sempre que o ouço, com pequenos apontamentos musicais.

Daí à exploração dos restantes temas de Läther e à comparação com as versões originais ou  publicadas depois em modo disperso por vários lp´s- Sleep Dirt, Joe´s Garage act II & III; Tinsel Town Rebellion, Studio Tan e Zappa in New York e Orchestral Favourites, ou até Sheik Yerbouti- foi o tempo de arranjar os lp´s originais.

A repetição de temas em vários lp´s bem como a colagem de sonoridades obtidas por xenocronia, ou seja, por junção de partes de temas do vivo, geralmente solos de guitarra a temas de estúdio, provocou a curiosidade em saber o que era o quê na obra de Zappa e assim se passaram meses a ouvir tudo o que foi possível ouvir até hoje, em repetição e com bastante tempo para perceber o essencial da música de Zappa: genial e única.

Em 2012 a colectânea Läther foi reeditada pela família de Zappa e retomada a intenção original do músico bem como as gravações de origem para esse disco quádruplo frustrado e que apenas saiu em formato de lp no Japão eventualmente em gravação apócrifa.