Embora nessa altura, por volta de 1974 o objectivo era conseguir um gravador que fosse capaz de gravar os álbuns ( lp´s) que passavam integralmente nos programas de rádio do RCP ou depois, nas emissoras nacionalizadas que tomaram o nome de Antena 1 a 4 e nesta passavam os discos integralmente, com um mero aviso no início: " hoje dedicamos o programa `Dois Pontos` ao lp dosYes, Relayer", por exemplo. Ou " Vamos passar na íntegra o lp de Leo Kottke, Mudlark" e assim se ouvia o disco até ao fim, sem interrupções.
O mais próximo do que poderia encontrar que me satisfizesse essa necessidade de ouvir e gravar os discos que o rádio passava era este pequeno aparelho publicitado numa revista Pop ( alemã), de 1974:
O aparelho da Phillips ( a Grundig também tinha um) era o máximo em design e portabilidade. Mesmo sendo mono, o som que de lá vinha, nessa altura, como nada tinha de digital, era mais suave e ouvia-se muito bem e com a impressão de ser um som "cheio" de essência musical. E era isso que importava.
De resto, ouvi vezes sem conta o disco dos Van Der Graaf Generator, Godbluff, saído em 1975, num aparelho destes e com uns auscultadores mono e com efeitos sensoriais muito semelhantes aos que hoje experimento com a audição do lp original em condições de qualidade superiores e de verdadeira alta-fidelidade.
Portanto, tal gosto pela pesquisa de emoções sonoras gravadas, associadas à beleza estética dos produtos, vinha de longe, particularmente já de 1974 e começou com as publicidades na revista National Lampoon, humorística mas cujos textos geralmente nem lia porque apenas me interessavam as imagens, da publicidade e dos desenhos e ilustrações. Nessa e noutras revistas americanas, como esta Oui de 1974.
As inglesas dedicadas exclusivamente à alta-fidelidade, só mais tarde, já nos anos oitenta. Hi-Fi News, Hi FI review ou Hi FI Pleasure foram revistas que comprei e li, e muitas guardei, sempre com grande interesse, nos anos oitenta e noventa. Acompanhei desse modo os primeiros lançamentos dos cd´s na época em que essas revistas faziam listas mensais dos lançamentos novos, na música pop e clássica.
Um dos aparelhos que mais gostava de ter nessa época era este que aparece numa publicidade da Lampoon: um gravador de cassetes, numa configuração que começava a dar os primeiros sons em alta fidelidade por causa da melhor do sistema de transporte das fitas e do sistema de redução de ruído Dolby. Até fazia as contas ao câmbio do dólar, mas valia pouco uma vez que passado pouco tempo, as dificuldades económicas do pais, traduzidas em falta crónica de divisas estrangeiras tornaram proibitivas as importações deste tipo de material. Só em contrabando, coisa que aliás surgiu logo no final dos anos setenta, em força.
O gravador, esse, era uma pequena maravilha técnica e de design japonês. As colunas que se mostram são americanas JBL e de um modelo que ainda hoje gostaria de ouvir- a L100, uma variação do modelo 4310 ou 4312, com uma grelha em espuma talhada que era uma maravilha estética. Frank Zappa chegou a misturar a música gravada em pelo menos um dos seus lp´s - Ship arriving too late to save a drowning witch, de finais dos setenta- de modo a ser reproduzida nessas colunas, por serem populares entre os apreciadores.
Mas não só as revistas americanas traziam este tipo de publicidade. A francesa Pilote, já em edição mensal, no Verão de 1974 trazia este anúncio a uma aparelhagem Sony que me fazia cair os olhos. Era esteticamente belíssima e o anúncio era o máximo. Além disso incluía tudo o que me interessava: gira-discos e rádio com amplificador.
O Expresso da mesma época publicou também uma publicidade ao mesmo produto, incluindo uma verão com cassete, o que era o máximo. Durante algum tempo esta aparelhagem era a que gostaria de ter tido.
Assim, em 1982, dei comigo a comprar a primeira revista High Fidelity, edição americana. Em Outubro desse ano, a revista trazia reportagens sobre componentes de alta-fidelidade como colunas e o modo de as escolher. As publicidades, essas, eram irresistíveis e havia uma da Pioneer que marcou essa época.
Em Janeiro de 83, faz agora 30 anos, a revista trazia a primeira abordagem crítica do som do cd, entretanto aparecido no mercado, mas ainda raro de ouvir. A conclusão é a mesma de hoje: o vinil acaba por ser preferível.
Em Fevereiro de 1983, quase dez anos depois daqueles anúncios na National Lampoon aparecia esta capa com imagens de gravadores de cassetes, já com um design diferente e sensacional, com os mecanismos de activação de funções em modo de pressão electrónica, em vez de mecânica. A era da engenharia electrónica e informática, aplicados à electrónica de consumo mostrava as suas potencialidades
Lá aparece a japonesa Nakamichi que se converteria no aparelho mítico para gravar cassetes, cujo modelo de topo era este, o Dragon, de 1982 nunca ultrapassado pela concorrência nos testes dessas revistas ( nem sequer pelos suíços da Revox ou pela Nagra) :
Os gravadores de cassetes da Nakamichi, para além do design diferente, inovavam frequentemente, como neste caso em que conseguiram melhorar o sistema auto-reverse, num aparelho que rodava as cassetes automaticamente e em 360 graus, logo que terminava um dos lados, para se ouvir o outro sem necessidade de manualmente ir ao aparelho virar a cassete. Este modelo RX- 505 apareceu no mercado por volta de 1983 e nessa altura, em Portugal, só se poderia ver em casas de material de contrabando que aliás não faltavam em Lisboa, Porto ou Coimbra.
Ou este, da mesma revista mas de Outubro de 1982, de uma outra pequena maravilha da Sony que em 1982, na sequência da invenção do Walkman logrou introduzir no mercado dos gravadores portáteis um concorrente sério aos Nakamichi, de um luxo superior. Este design da Sony é imbatível de beleza industrial:
O fantástico era ainda descobrir nessa mesma revista, por exemplo um anúncio como esses ou este, da Denon:
E na página anterior ver este anúncio ao futuro da gravação dos sons, o adaptador PCM da Sony, segundo consta em 16 e admitindo 14 bits, e provavelmente em frequências próximas da do cd actual ( 44.1kHz), embora específicas da banda video associada para gravação ( designadamente os Betamax da Sony). O design, no entanto, seria de causar inveja ao falecido Steve Jobs:
Os anos oitenta foram, por estes motivos e outros, uma época de ouro da alta-fidelidade aliada ao design industrial. Os modelos das marcas mais conhecidas eram simplesmente assombrosos de beleza estética e surpreendiam pela inovação e qualidade.
Nesta época já tinha o meu "combo" Grundig que me satisfazia razoavelmente as necessidades auditivas e musicais, mas olhar para estas pequenas maravilhas da técnica e do design era um prazer acrescido, obtido através das revistas da especialidade. Ao longo dos anos sempre foi assim e ainda hoje leio regularmente a HI FI News que me traz as novidades em audio, agora aplicadas à digitalização em alta resolução ( 24 bits e 192 kHz) impensáveis nessa época mas perfeitamente banais actualmente, audíveis através de DAC´s específicos e que traduzem em som analógico os sinais digitais.
Será este, provavelmente, o futuro da audição desses sons agradáveis ao ouvido. O estudo dos DAC´s já se revela por isso essencial.
As gravações que actualmente faço são nesse registo digital e passando o som dos lp´s para tal registo ( através de um conversor analógico-digital, no caso da Roland, o Quad-Capture) que ocupa por disco mais de 1,5 GB, a sonoridade que se alcança é muito próxima desse som ideal. E com uma conveniência no manuseio que não tem comparação com o que era exigível nos lps. Actualmente, transportam-se facilmente, num cartão de memória flash, vários discos, dependendo apenas da capacidade do cartão, sendo certo que os de 32GB custam menos que um cd e portanto bastante menos que os então LP´s. que se vendiam relativamente caros por serem também obras de arte musical...
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