Poderia mesmo dizer que desde 1971, altura em que comecei a ouvir certas músicas com a curiosidade de serem novidades absolutas e encantadas, a década de setenta foi a que me proporcionou melhores experiências sonoras. De tal modo houve certos anos em que todos os meses saíam discos que ficaram no ouvido para sempre e continuam a ser a música popular que ainda hoje ouço com atenção. Todo o rock progressivo, digamos assim, foi produzido publicado nessa época, com alguns exemplares vindos já da década passada. A música country, idem. A música de certos autores singulares que produziram o melhor das suas obras nessa década, como por exemplo Jackson Browne ou Neil Young.
Assim, em 1982, ironicamente numa época em que já podia apreciar devidamente e em condições sonoras mais que aceitáveis, com uma aparelhagem sonora de alta fidelidade, os discos por seu lado, começaram a rarear de tal forma que nesse ano, poucos comprei à medida que saíram. Curiosamente, o interesse na alta fidelidade aumentou exponencialmente e comecei a tentar ouvir discos que tinha em aparelhagens que mostrassem o que deve ser um som em verdadeira alta-fidelidade.
Destes discos, o destaque, com o recuo do tempo, vai para o Concerto em Central Park de Simon & Garfunkel; Avalon dos Roxy Music e The Nightfly de Donald Fagen. Em termos de sonoridade pura, os Toto IV que ouvia muitas vezes na Rádio Popular de Vigo, particularmente Rossana e Africa, exemplos do som cd que essa emissora galega passaria dali a uns tempos ( o cd só chegou no ano seguinte e posteriores).
O disco de Donald Fagen comprei-o em Espanha quando saiu, bem como o de Robert Wyatt, Shipbuilding, um grande tema de Elvis Costello.
JJ Cale comprei-o porque já estava rendido à sua arte nessa altura e já tinha ouvido os anteriores que comprara em Espanha igualmente, em edições mais baratas, alguns a 530 pesetas, no El Corte Inglès.
A partir desse ano os discos que comprei quando saíram foram relativamente poucos e quase sempre de artistas antigos.
O rock, para mim, terá começado a morrer nessa altura. Foi uma morte lenta e sem dor. Não encontro nos anos e décadas seguintes quase nenhum artista que mereça a pena ouvir atentamente.
No entanto tentei cada vez mais ouvir melhor os que já tinha ouvido. Ainda hoje tal acontece.
Na época, um disco como Gold dos Steely Dan fazia sentido porque ainda não tinha ouvido a obra anterior do grupo, a não ser um ou outro tema de discos, como Gaucho, saído em finais de 1980, cujos temas ouvidos na tal Rádio Popular de Vigo me deram vontade de conhecer o resto, particularmente Third World man que ouvia com muita curiosidade por causa da...gravação que adivinhava um luxo. Mas não sabia ainda em que lp viria tal tema.
Assim, ainda antes de saber em que disco aparecia o tema, que gravei do rádio e ouvia obsessivamente, marcando essa época em termos sonoros, procurei primeiro numa discoteca do Porto ( na rua de Cedofeita) o lp Pretzel Logic que na loja não ouvi integralmente e acreditei ser aí que vinha.
Não vinha, mas ouvi outros temas ainda mais interessantes como Any major dude, com um substrato de guitarra acústica que me conquistou para ouvir tudo do grupo.
Foi assim que nos anos oitenta o grupo cujos discos principais tinham sido publicados nos anos anteriores, descobri o som dos Steely Dan. Já tinha lido referências na Rock & Folk mas pouco ligara.
Então reli tudo de novo e ouvi o que não tinha ouvido.
Tal coisa aconteceu a vários outros artistas da música cujas obras tinham sido publicadas nos anos setenta e nunca tinha ouvido.
Por exemplo a dos Little Feat.
Sem comentários:
Enviar um comentário