domingo, 15 de fevereiro de 2009

O cd e o som digital


Imagens de publicidade ao primeiro aparelho reprodutor de cd´s da Sony e um artigo da revista americana Record de Agosto de 1983.

O aparecimento do cd, em finais de 1982, foi uma revelação na reprodução musical. Durante o ano de 1983 e seguintes, a novidade foi-se impondo aos ouvidos curiosos e apresentada como uma vantagem evidente sobre o LP. Vantagem na conveniência de transporte, na maior capacidade de informação e até maior precisão e fidelidade na reprodução sonora.
O argumento era o de o disco analógico, o LP, sofrer com a reprodução por agulha a passar nos sulcos de vinil, várias vezes e por isso acabar por gastar o suporte físico, distorcendo o som. O cd, afastaria esse espectro, através da reprodução de sinais digitalizados em 0 e 1, inscritos e descodificados integral e perfeitamente, sem gasto físico e distorção sonora. A existir problema, residiria na inscrição inicial, com a codificação digital.
O som, representado por uma onda oscilante com variações de frequência ( o número de vezes que essa onda muda de direcção) e de amplitude ( a variação em altura, dando a noção de volume), pode significar música, como uma série complexa de variações de frequências e amplitudes, como explica este artigo seminal, do jornal Record, de Agosto de 1983.
O cd tornou-se em pouco tempo o meio adequado à gravação e reprodução de sinais digitais, em discos anteriores, como o Bop Till you Drop, de Ry Cooder, de 1979, o primeiro disco de música popular a ser gravado digitalmente

No entanto, essa qualidade sonora, atribuida inicialmente, tornou-se uma miragem ao longo dos anos, perante o reconhecimento de que o som do cd, tem uma tonalidade metalizada, com forte impacto sonoro, mas com falta de leveza e doçura na reprodução, comparativamente ao LP. A subtileza musical, não passa tão bem no cd como no vinil. Não se ouve tão bem. A reprodução por amostragem de sons, no cd, não resulta tão em como a lavrada dos mesmos, pela agulha da cabeça de leitura que literalmente percorre os sulcos do vinil. Essa continuidade sem soluções, permite uma melhor reprodução dos harmónicos que conferem consistência equilibrada ao som musical.
Por outro lado, a regravação de cd´s depois de gravações em vinil, ou seja, a gravação em AAD, modifica a sonoridade original, trocando por vezes o som dos canais, a audição de pormenores subtis que no disco de vinil são evidentes e no cd, saem modificados, na passagem de analógico a digital. Mesmo em cd´s gravados a partir de matrizes originalmente digitais ( como o referido Bop till you drop), a diferença da reprodução de canais estéreo e instrumentos se nota.
No final de contas, o som do vinil não foi vencido pela facilidade de acesso e reprodução que o cd representou.


Artigo da revista americana High Fidelity, de Março de 1984 e publicidade às colunas Sony, da mesma época.

A primeira vez que ouvi um cd, em aparelhagem de qualidade, foi em Espanha, no Corte Inglés, logo que apareceu a novidade, à venda no retalho. Um rack protegido com vidro, todo da Sony e com o primeiro aparelho reprodutor, o CDP-01, com as colunas mostradas na figura acima. A aparelhagem estava protegida por vidro e era operada por um funcionário que demonstrava ali mesmo, a putativa qualidade superior do produto. Um dos primeiros cd´s que passava era o de Simon & Garfunkel, Bridge over troubled water.

A ideia repetida nos media, de que o som do cd era superior, ajudou a criar a ilusão de que assim era e nessa vez, a basbaquice da novidade não contrariou o que mais tarde se tornou evidente: o LP continuava a ser superior.
Nos EUA, a revista americana High Fidelity, reuniu um grupo de peritos e críticos para analisarem a sonoridade comparada do cd e do LP.
O resultado foi inconclusivo, na época, com a indicação de aspectos positivos no cd, relacionados com a facilidade de uso e o som, em alguns casos, a ficar por conta do LP. Ainda assim, uma emissora de rádio espanhola, Radio Popular de Vigo, começou a transmitir, em meados da década de oitenta, uma hora de "música digital" no programa FM Stereo. Ry Cooder, precisamente, tornou-se presença habitual, tal como Boston, Foreigner,Joni Mitchell e Toto, com Rossana, um dos títulos mais espectaculares do álbum IV e que dava uma noção do som digital, "larger than life".
A seguir apareceu o disco dos Dire Straits, Love over gold e o som digital passou à fase de marketing maciço.

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