Yester me, Yester you, Yesterday, foi a música que me indicou que a voz da pop, também tinha tonalidades de negro. Em finais de 1969, a canção era notória, no rádio da época, bem como o nome que a trazia: Stevie Wonder, preto, cego e de voz inconfundível, atravessou o panorama da pop, saindo do ghetto. Tal como Otis Redding o tinha feito antes com Dock of he bay.
Antes desse ano, já outros negros de alma brilhante, tinham mostrado a verdadeira cor do som: universal. Os Milagres de Smokey Robinson, com The track of my tears e My Girl, tinham mostrado o firmamento perfeito da pop, em anos anteriores, mas não tinham deixado marca no interesse. Idem, para Aretha Franklim ou outras Supremas intérpretes que gravavam para a etiqueta Motown. Idem, aspas, para Percy Sledge, com o clássico When a man loves a woman, ou mesmo com Ray Charles e os seus clássicos das canções modernas de country and western, com uma das canções maiores de toda a música popular: I can´t stop loving you.
Al Green, surgiu depois. Como Marvin Gaye ( What´s going on e Midnight Love) , Curtis Mayfield( Jesus), Smokey Robinson ( Pure Smokey, Warm Thoughts e Being with you) . Prince ( Around the world in a day), Randy Crawford ( Nightline) Roberta Flack ( Feel like making love).
Praticamente, toda a atenção à luz para música pop marcada pela cor, surgiu depois de Yester me, yester you, yesterday, de Stevie Wonder, no início da década de 70.
Em 1973, com Innervisons, estalou polémica entre defensores de Stevie e de mister Brown, James.
Innervisons, é um dos LP´s dos setenta, perfeitos, na música, letra e ambiente. A canção Living for the city, é uma das canções do ano e passava no rádio, com a frequência já modulada pelos tempos novos que se aproximavam a passo de gigante. É uma canção de protesto suavizado pelos instrumentos de Stevie, todos tocados pelo músico, nessa canção.
Em He´s a misstra know-it-all, só baixo lhe falha, embora toda a música seja de grande luxo, com uma melodia bem achada.
A guitarra acústica de Dean Parks, faz jus a uma boa aparelhagem nas subtilezas de Visions.
Que tinha James Brown a propôr nessa época? Funk. Baixo e ritmo, em cadência dançante. Com força de voz e inflexões de sexo em modo maquinal.
A música de James Brown, seduziu-me uma vez e de modo curioso, já nos anos oitenta. Num acaso de rua, calhou ouvir Sex machine, a passar, num carro com as janelas abertas e o som de muitos watts, a saltar pelos forros e portas fechadas. O poder do baixo, alimentado a amplificadores de grande potência, fizeram-me estancar e ouvir por alguns momentos um dos sons mais poderosos que até então ouvira. E desde então, nunca mais ouvi igual e percebi nesse momento a magia do som de Brown.
Por isso, em 73, Innervisions era superior a Brown, nos meus ouvidos. Três anos depois, em 1976, Stevie Wonder publicava a sua obra prima absoluta: Songs in the key of life. Um opus magnum, em duplo Lp, com Ep junto e canções de luxo em repetição, desde a primeira faixa, Love´s in need of love today, até à última, Another Star. Não há uma única canção no duolo LP que seja de qualidade menor. 17 canções, mais quatro de bónus, de um disco único na discografia pop.
Songs in the key of life, de 1976, é um disco de um génio da música: Stevie Wonder.
4 comentários:
Caro José:
Por motivos pessoais tenho andado um pouco afastada das caixinhas de comentários,embora não dispense pelo menos a visita regular aos meus espaços predilectos, como é o caso deste.
Os seus posts têm sempre um efeito de elixir sobre a minha alma.
Foi muito bom relembrar estas músicas.
Recorrendo ao youtube fui escutar cada uma das que recordou aqui e fiquei feliz porque quase todas as do album "songs in the key of life" ainda se podem lá encontrar.
Também me encanta muito a "I can't stop loving you".
Muito obrigada pela partilha que aqui faz desses pedacinhos da sua vida, cuja recordação pela sua parte neste espaço, enriquece sempre quem as acede.
Entre as músicas aqui recordadas que encontrei, houve uma que achei "vestida" entre umas imagens muito bonitas, tranquilizantes, inspiradoras de paz, tal qual a que sempre aqui recolho neste espaço.
Chama-se "It is magic". Coloquei no meu blog especialmente para lhe dizer obrigado.
Um beijinho amigo
Maria
A tradução correcta de "Songs In The Key Of Life" é "Canções No Tom Da Vida", o que me parece aliás mais ajustado ao que o disco pretende fazer passar.
É verdade, eu sei. Key, neste caso, quer dizer tom, como em tom maior ou menor.
Mas não ligo a estas especificidades semânticas, quando me apetece inventar noções diversas, jogando com as palavras.
Um dos melhores se não o melhor disco de Stevie, uma abertura em grande escala para muitos dos novos artistas que por ai vão aparecendo, pena que não haja outro Stevie, se calhar melhor assim.
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