quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A nova ordem da divisão da alegria

O primeiro disco que comprei, com dinheiro ganho por mim, foi escolhido literalmente a dedo. Foi em 1981 e entre as várias escolhas possíveis, foi o LP Movement, dos New Order o que começou a rodar no prato Dual, num som ainda longe da perfeição, mas muito melhor do que qualquer arremedo sonoro, de mp3 actual.

Os New Order de 1981, seguiam-se aos Joy Division, bem publicitados por cá, por um Miguel Esteves Cardoso que sobre eles escrevia, de Manchester, lugar original da banda de Ian Curtis, que se suicidou em Maio de 1980.

O lugar da escrítica era na altura O Jornal, onde na edição de 11.11.1980, foi publicada a crónica crítica sobre o disco Closer, o último da banda, depois de Unknown Pleasures, o primeiro, depois dos singles que marcaram a época, como Love will tear us apart, publicado já depois da morte de Ian Curtis, tal como o LP Closer, aliás.

Em Portugal, nessa época, os Joy Division eram um grupo conhecido, mas ainda pouco divulgado a não ser pelas crónicas ditirâmbicas de MEC. Em 23.10.1981, também no O Jornal, publicitava o álbum duplo, Still, uma recincidência do artigo publicado em 21.10.1981, no Sete, sobre o mesmo disco; em 30.9.1981, no Sete, escrevia sobre os New Order, de Everything is gone green, o primeiro single antes do primeiro álbum; em 11.12.1981, mais um artigo no O Jornal, sobre a música dos Joy Division e a indicação de que Ian Curtis, com 23 anos, gostava de Kafka e Herzog. Curiosamente, também na mesma época, o cineasta alemão era dos meus preferidos, depois de ter visto O Enigma de Kaspar Hauser.

Não há dúvida: se alguém, em Portugal, publicitou a banda de Manchester, foi precisamente Miguel Esteves Cardoso, na altura, emigrado em Manchester.

A sonoridade Joy Division, para dizer a verdade, nunca me passou nos carretos sonoros, com a mesma intensidade da escrita de MEC, na altura. Mesmo assim, o som seco da bateria, acompanhado pela guitarra em fuzz permanente, com a electrónica dos teclados e a voz grave e triste de Ian Curtis, era um eco que então se escutava com alguma atenção. Além do mais, as capas dos discos, eram talhadas ao milímetro por um artista do design, Peter Saville, que associava o novo ao antigo, o clássico à arte contemporânea.

A capa de Movement, o primeiro LP que comprei, foi uma escolha estética também por causa disso, porque o objecto sóbrio e de cores limpas, desenhava um traço já visto noutros lados, mas nunca em disco de música popular.

A música dos New Order, eminentemente electrónica, tornou-se cada vez mais pop e por alturas do Lp, Technique, de 1989, já nem se distinguia de outras aventuras electro pop. Não obstante, o LP Power, Corruption and lies, de 1983, ainda conserva o encanto das descobertas sonoras dos anos oitenta. Das poucas que ainda eram possíveis nessa época.



























Imagens: Capa e contra-capa do Lp Movement, original e prensagem portuguesa da Vimúsica, Lda, de 1981.; NME de 20.4.2002( cinquentenário do semanário inglês de música popular) e O Jornal de 11.11.1980.

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