sexta-feira, 2 de abril de 2010

Schubert- Missas

Nos anos setenta e oitenta costumava ouvir o Em Órbita, programa de rádio de Jorge Gil que nessa altura já passava exclusivamente música erudita.
O indicativo desse programa que começava às sete da tarde era uma peça coral, que vim a saber mais tarde tratar-se de uma parte de uma missa alemã de Schubert.
Devido ao tom majestoso e cerimonioso da prestação coral, de grande beleza estética e que suscita uma inclinação espiritual na escuta, procurei durante anos, o disco que a apresentasse do modo como a ouvira nesse tempo.
A busca demorou anos e incursões frequentes em discotecas, à procura do verbete Schubert-Missas.
Em primeiro lugar foi o LP, ainda nos anos oitenta, em prensagem alemã da Acanta, com a versão da Deutsche Messe D. 872 pelo Tölzer Knabenchor, dirigido por Gerhard Schmidt-Gaden, gravação de 1975. A aquisição terá ocorrido na célebre discoteca Santo António, no cimo da rua 31 de Janeiro no Porto e onde ouvi talvez a melhor aparelhagem sonora de sempre, com uma colunas Bowers & Wilkins série 801.( imagem tirada da Rede)

O som que ouvi não me devolveu o que a memória guardava do tempo do rádio Comercial, nos breves segundos do início do Em Órbita.
A parte escutada respeitava sem dúvida ao final Schlussgesang. Um coro em "chave de canto" que terminava a "missa alemã", tal como conhecida mas com a designação D. 872.
Mas não era aquilo. Era demasiado rápido para a versão que conhecia do Em Órbita. Demasiado apressado para a majestuosidade do Schlussegesang que ouvira antes, apesar das entoações dos sopros se lhe assemelharem.
Como não era bem aquilo, procurei outras versões da "missa alemã".

Conforme se vê pela imagem acima, apareceu outra versão em cd, da Ophelia Records e com data de 1988, mas com gravação de 1980, o que manifestamente não poderia ser, porque a versão que ouvira vinha já dos anos setenta. E o som do Final, da Schlusse, da chave, não era bem aquele, porque também demasiado apressado no compasso e diverso no som coral.

Em seguida experimentei a versão em cd da Capriccio, gravação de 1988 e com o Rias Kamerchor , RSO de Berlim, com direcção de Marcus Creed. O Schluss final quase me convenceu porque a versão é muito próxima da que ouvira. Durante algum tempo tive a ilusão de que era aquilo, mas uma audição atenta, levou-me à desapontadora conclusão de que ainda não era.
E procurei em vários sítios, em diversas discotecas em todo o lado onde fui. Em Viena achei que encontraria porque é um sítio onde se comercializa muita música erudita à sombra de festivais e de uma ópera que se manteve idêntica durante os decénios que a sustentam. Mas não encontrei.

E um dia, do ano passado, na FNAC de cá, reparei numa caixinha da EMI Classics, uma compilação de 1988/2007, com gravações antigas.
Uma delas respeita à gravação de uma "missa alemã", de 1960, da Orquestra Filarmónica de Berlim, dirigida por Karl Forster, com o coro da Catedral de Santa Edwige de Berlim.
É esta a versão que sempre ouvi na minha memória e agora canta em CD, neste dia de Sexta-Feira Santa.
A paixão de Cristo numa "missa alemã" que afinal não tem o número de série D. 872 mas sim o D. 621. E por causa disso, andei anos à procura de um som. De um coro. De uma versão musical de uma missa, um requiem, cuja primeira apresentação ocorreu em Viena, em Setembro de 1818.
Uma peça musical sublime.

4 comentários:

MARIA disse...

Magnífico!
Boa Páscoa José. Que seja grandemente abençoada em tudo a sua vida, em particular nesta época, mas sempre como se deseja , claro. um beijinho amigo da

Maria

Zé Dias da Silva disse...

Não fui educado na música clássica e, ainda hoje, não gosto dela.
Abro apenas uma ressalva para o «Molto Vivace» da 9.ª Sinfonia.
Não me canso de a ouvir.
Cumprimentos.

josé disse...

Pois para mim, na 9ª considero o 3º andamento- Adagio molto cantabile- algo de sublime na música e sem paralelo na versão de Herbert von Karajan, de 1963.

Se a religião precisar de música é essa que escolho, a par de Schubert.

Picaba49 disse...

Parabéns pelos achados. Tenho acompanhado os relatórios da sua pesquisa e é bom ver a sua persistência recompensada. A missa do Schubert é de facto uma obra muito bela. E o ter sido o indicativo do Em Órbita na sua fase erudita dá-lhe um interesse suplementar. Já na sua fase pop o Em Órbita tinha recorrido à música erudita, inicialmente para separadores, e a partir de certa altura o indicativo do programa passou a ser o início do Assim falava Zaratustra de R. Strauss. Ouvia o Em Órbita nessa fase e/ou sabe que versão era? Além disso tinha muito interesse em saber mais sobre a fase erudita do EO, que parece ter seguido com atenção. Eu, infelizmente, não o fiz mas mas julgo lembrar-me que passou em mais de uma estação. Na Comercial e na Antena 2? Nessa altura o responsável era só o Jorge Gil? O apresentador foi sempre o mesmo? Quando terminou o EO radiofónico? Ficava muito agradecido se quizesse partilhar as suas recordações.