domingo, 18 de abril de 2010

Fora de Órbita



Duas páginas de programação de rádio, da revista R&T de Agosto de 1970 e Janeiro de 1974.

O programa de rádio Em Órbita, começou a transmitir-se em 1.4.1965 e no seu formato inicial, com passagem de música popular de vanguarda ( na época, a de expressão anglo-saxónica, o pop/rock) e com a apresentação de Cândido Mota e a realização, entre outros, de Pedro Soares Albergaria, João Manuel Alexandre e Jorge Gil.
Como se pode ver clicando na imagem acima da revista R&T de época, em Agosto de 1970, o programa transmitia-se das 19h às 21h. Em finais de 1973, havia um Em Órbita dois, a passar às 24 h, no mesmo rádio: o RCP em FM. Anunciava-se nessa altura o aparecimento do Em Órbita que em Junho de 1974 passava já às 19 horas e até às 21h, como anteriormente.
Em Maio de 1971, o programa terminou esse percurso pela música popular e passou a outra forma mais erudita.
Nos anos oitenta, o programa apresentado nessa altura por João David Nunes, passou a focar a sonoridade radiofónica na música antiga erudita e em meados da década, patrocinou inclusivamente a realização de concertos. No caso do tricentenário do nascimento de J.S.Bach ( 1685-1985), a Erato e a Dacapo, produziram um disco duplo, com os Concertos brandeburgueses, de J.S.Bach, pela Orquestra Barroca de Amsterdão, dirigida por Ton Koopman.

Foi nessa altura que o Em Órbita, ( cujo indicativo era o tema último da Deutsche Messe, Schlussgesang) , despertou a minha atenção para esse tipo de música barroca e particularmente Ton Koopman, levando-me a comprar o LP comemorativo ( acima e que se amplica com um clique), com os seis concertos tocados em instrumentos antigos que emprestam à sonoridade uma característica própria e algo anacrónica.

O mesmo Ton Koopman que hoje se terá apresentado no Auditório da Gulbenkian. Provavelmente com a presença de Jorge Gil...e que poderia ser entrevistado agora para falar do seu programa e principalmente do rumor que anda por aí, no sentido de o mesmo guardar religiosamente as gravações em fita, do programa Em Órbita daqueles anos todos.
Se isso fosse verdade e Jorge Gil se disponibilizasse talvez que um mecenas pudesse ajudar à concretização de um sonho: retomar as memórias desse programa ímpar na nossa rádio. Talvez um Teixeira Pinto que agora se dedica a coisas da cultura tivesse memória de Em Órbita. Talvez outros.



7 comentários:

ié-ié disse...

O primeiro indicativo do "Em Órbita" era um instrumental dos Kinks, com Jimmy Page na guitarra, "Revenge".

E depois foi "2001 Odisseia no Espaço".

LT

josé disse...

Quer dizer, o 2001 é um filme de Kubrick, estreado em...1968 ( fui ver ao Google).

Será esse tema de Richard Strauss- Also Sprach Zarathustra- o indicativo co Em Órbita por inspiração directa no filme?

Picaba49 disse...

Provavelmente foi. Ou, pelo menos, foi adoptado como indicativo do EO, se a minha memória não me engana, pouco depois da estreia do filme do Kubrik. O indicativo do EO era o tema inicial do Assim falava Zaratrusta, intitulado "O Nascer do Sol". Este filme teve grande êxito em geral e na juventude em particular. Vi-o várias vezes aquando da estreia. Mas tenho ideia de ainda ter havido outro indicativo, talvez do Em Órbita 2, com um fragmento da banda sonora de outro filme de Kubrick (A Laranja Mecânica): Música electrónica do W. Carlos.

Picaba49 disse...

Comecei a ouvir o Em Órbita no verão de 1965 e julgo que nessa altura era ainda só das 19 às 20. O apresentador era o José Castelo e o modo de apresentação já era muito sóbrio e distinto. Era apresentado como um programa de José Gil, Jorge Gil e Pedro Albergaria. O José Manuel Alexandre era autor de rubricas de jazz, blues e folk. Não era apresentado então como autor do programa mas era certamente uma personalidade forte e muito influente que eu ouvia sempre com a maior atenção. Na noite a seguir à sua morte, num desastre de viação, no horário do Em Órbita
(19-21) ouviu-se exclusivamente música clássica. A minha dúvida é se foi em substituição do programa ou como conteúdo do programa. É um pormenor técnico mas poderia ter sido o primeiro EO "clássico". Mesmo que não tenha havido indicativo seria a selecção da estação ou dos autores do programa? Seria uma obra que o JMA gostasse particularmente? Julgo que só no dia seguinte soube da razão da alteração da programação e foi um choque profundo que me deixou à beira das lágrimas. Nunca na minha vida sentira ou voltei a sentir algo assim pela morte de uma figura pública (tinha apenas trocado algumas palavras breves com ele por duas vezes: numa visita ao RCP e num festival sobre arte e música pop na SNBA). Julgo que isto diz bem o que o Em Órbita representava para mim e para muitos outros da minha geração.

Picaba49 disse...

João MA e não José, claro.

Picaba49 disse...

Em Agosto de 1970, o Em Órbita 2 passava também à meia noite como se pode ver no programa que reproduziu. Esse Em Órbita 2 que passava pop music (lembro-me de a certa altura passar álbuns completos) sobreviveu ao Em Órbita das 19h que terá acabado em 1971. Mas disso a minha memória é muito fragmentária porque em 1970 assentei praça e de Nov.70 a Nov. 72 estive na Guiné-Bissau (embora tenha cá estado um mês em 71 e outro em 72, de férias). Mas julgo que, quando voltei definitivamente, o Em Órbita 2 ainda existia, passava pop e terá durado até 1974.

Belmiro Oliveira disse...

O "Em órbita" começava às 19:14 e terminava às 20:52 no extinto Rádio Clube Português nos anos 60 e até 1974. A partir daí passou a emitir música erudita. O indicativo era um extracto do poema sinfónico "Assim falou Zaratrusta" de Richard Strauss.
Quando passou para a Antena 2 nos anos 90 aos sábados das 23 à 1 hora optou pela música pré-romântica e o indicativo era um extracto da "Tafelmusik" de Tellemann.