Contemporêneo das descobertas na banda desenhada, é um dos discos que mais escutei na adolescência. Abraxas, dos Santana.
O LP, saído em finais de 1970, foi uma das aquisições de um amigo meu, cujo gira-discos passou a repetir agulhas, nos sulcos de Oye como va e Black magic Woman.
Para nós, Santana, nesse tempo, era uma recordação de um portentoso solo de bateria, pelo então baterista Mike Shrieve, no festival de Woodstock.
Abraxas, tinha um motivo principal da preferência: o êxito, Samba pa ti. Contudo, de tanta audição, tornou-se uma segunda escolha e de repente, os motivos de entrada do órgão minimalista de Black Magic woman, ganharam mais relevo do que o fraseado do slow Samba pa ti ( aqui em boa versão Youtube, de um espectáculo no Japão) .
Slow tão óbvio como Samba pa ti, torna-se difícil de encontrar, ( só Europa, meia dúzia de anos depois) porque instrumental de muito aconchego de adolescência, em bailes de salão com música gravada.
No entanto, Abraxas, é um conjunto de temas e canções com ritmo afro-latino, misturado com a guitarra de Carlos Santana, um dos mestres desse instrumento da música popular.
O encadeamento dos temas, é perfeito na passagem instrumental de uns para outros.
O disco começa em tom calmíssimo, de vagas pianísticas e som de maré, interrompido por uma guitarra eléctrica que vai pontuado a paisagem sonora, em instrumental que adquire ritmo de jazz rock, alguns minutos depois.
A entrada de Black Magic Woman, canção de Peter Green dos Fleetwood mac, aparece em sonoridade organística, pontuada pela guitarra em modo bluesy, numa transição perfeita. A voz surge apenas a meio da canção, em ritmo quase latino.
Oye como va, depois de uma refrega de guitarra, no final de Black Magic Woman, surge num tom calmo e de salsa, em mais uma transição perfeita. Oye como va, é um clássico, um standard deste tipo de música que convida imediatamente a bater o pé e a mexer os quadris. As percussões, são fundamentais nesta canção de êxito, à qual se seguem mais três de ritmo afro-latino, com grande intervenções de guitarra rock e misturadas em ambiente sonoro descontraído.
Antes de Samba pa ti, toda em guitarra solo, Mother´s daughter, acaba em ritmo eléctrico de frenético e o começo do slow é uma surpresa de disco de luxo. Por isso, a que se lhe segue, Hope you´re feeling better, retoma o funky-rock, num evocação hendrixiana, para deixar espaço sonoro à última composição, El Nicoya que começa em tom de batuque e marimbas e se desenvolve em ritmo dançante de percussões variadas.
Abraxas é um daqueles discos que se ouve vezes sem conta, depois de se ter escutado tudo.
Ao longo dos anos, Santana tem editado vários discos, alguns deles de êxito assinalável e recheados de pequenas pérolas musicais.
Depois de Abraxas, voltei a interessar-me pelo Santana de Welcome, em 1973, com duas músicas de antologia: Love devotion and surrender e When i look into your eyes.
O seguinte, de 1974, Borboletta, contém Promise of a fisherman e a seguir, terminam os meus discos de Santana, com o álbum ao vivo, de 1977, Moonflower. Contém êxitos passados e ainda uma interpretação asinalável de She´s not there, dos Zombies, o motivo principal para o ter comprado.
O que veio a seguir, são repetições.
1 comentário:
Belo post. Rememória de um album, como de outros por aqui, que revivi com prazer.
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