segunda-feira, 12 de maio de 2008

Hot Tuna


Primeiro o nome, era logo esquisito. Hot Tuna, soa bem e saberá melhor como comida de restaurante do sul. Mas também soa a música sulista, elitista qb.

Como habitualmente, o nome surgiu antes da música, porque os discos dos Hot Tuna, não tinham curso livre e corrente em Portugal, quando sairam. Em França, sim. E a revista Rock & Folk, dava-lhes o destaque devido, por causa dos dois nomes que compunham no grupo: Jorma Kaukonen e Jack Casady, ambos saídos do Jefferson Airplane, dos anos sessenta e da música que praticavam.

Assim, coloca-se-me uma dúvida acerca do momento preciso, no tempo, em que tomei conhecimento pela primeira vez, dos Hot Tuna e da existência de uma música em modo bluesy, tocada em acústico e eléctrico desfasado pela distorção harmónica de Jorma Kaukonen.

Em Dezembro de 1974, a Rock & Folk, trazia a recensão crítica de Quah, de Jorma Kaukonen, mas na altura, o nome dizia-me tanto como o da crítica ao lado, no caso, Emmanuel Booz. E no entanto, esse disco viria, anos depois, a figurar entre os melhores discos que me foi dado a ouvir, na música popular.

Assim, a primeira exposição solar aos Hot Tuna, deu-se em Novembro de 1975, com um artigo de seis páginas na Rock & Folk. Texto, sem música, porque esta veio muito depois. E ficou a pulga atrás da orelha: o primeiro disco dos Hot Tuna era inteiramente acústico e o segundo, acusticamente eléctrico. Só esta palavra, suscitava toda a atenção: um grupo do sul, a tocar country-blues em modo acústico, era para se ouvir, tendo em atenção que o próprio Jorma declarava à revista que era assim que sabia tocar e que só aprendeu a tocar eléctrico no seio dos Airplane. Uma das canções de Bark, poderia ser dos Hot Tuna: Third week in Chelsea que andei anos a fio para ouvir.

A primeira canção do primeiro álbum, um disco ao vivo saído em 1970, intitulado, Live at the New Orleans House, Berkley, é Hesitation Blues, seguida de outras duas com terminação em blues. O disco, esse, só foi ouvido, na década de noventa, quase vinte anos depois de o ter lido nas páginas da Rock & Folk.

O primeiro disco que comprei, dos Hot Tuna, foi o LP Burgers. De 1972, é considerado um dos discos referênia do country rock. Antes de o arranjar, já ouvira no rádio de António Sérgio, em 1978, o grande disco ao vivo, Double Dose. Uma dose dupla de blues, em aquecimento acústico e em desenvolvimento eléctrico a seguir, abrangendo os temas dos álbuns anteriores e ainda Embryonic Journey, dos Jefferson Airplane.

Possivelmente, foi a passsagem de Double Dose que me ofereceu a oportunidade de ouvir a essência dos Hot Tuna e de ficar à espera dos discos restantes que final tinha saído todos antes desse. Discos míticos, foram reeditados em cd, pela BMG, muito tarde, já nos anos noventa. E nem todos o foram. Double Dose, precisamente, ficou para trás e ainda cortado de temas essencias, por causa do tempo do disco não caber integralmente no formato cd. Um deles, Hoppkorv, foi mesmo reeditado, apenas em 1996. A canção cortada, foi precisamente a que servia de introdução à música dos Hot Tuna, na minha memória: Killing time in Cristal City , com mais de seis minutos e que António Ségio apresentava num tom de voz cava e a lembrar que a dupla dos Hot Tuna, costumava aquecer a audiência, com uma sequência de números acústicos, antes de intoduzir a electricidade incandescente na sonoridade poética dos blues em modo country.

Antes disso, no início dos anos oitenta, tive a sorte de ouvir e gravar do rádio, o disco de 1974, Quah!, não dos Hot Tuna, mas de Jorma Kaukonen a solo, com a participação de Tom Hobson e produzido por Jack Casady.

O disco, durante anos a fio, ficou no ouvido, por causa da beleza especial das músicas, distinta da dos Hot Tuna, e predominantemente acústica, diversificada do habitual blues, mas com incursões do folk, gospel e até havaiana. Desde a introdução, com Genesis, até à conclusão, com Hamar promenade, o disco é um sonho de sons únicos na música popular. Um disco nostálgico antes do tempo, mistura orquestração com a sonoridade das cordas secas e a voz de Kaukonen, numa fantasia sonora que nunca deixou de me encantar. Não conheço outro disco que me provoque o mesmo efeito, ao ouvir que este.

Em finais dos anos oitenta, o LP foi reeditado pela Relix records, reproduzindo a capa original e em 2003, a versão em cd saída na mesma época, foi remasterizada pela RCA, com grande cuidado, ao ponto de se assemelhar à sonoridade do LP, com a vantagem de trazer quatro canções de bóuns, gravadas na mesma altura que as do LP original, ou seja nos anos 1972-74.

Como habitualmente na música de Kaukonen, alguns temas, são de um músico negro, do country-blues, o reverendo Gary Davis, como por excemplo I´ll be allright

. Porém, as composições essenciais do disco, a saber a inicial, Genesis, passando pela belíssima Song for the north Star e pela não menos belas , I´ll let you know before i leave ( instrumental), a etérea Flying Clouds , são de Kaukonen.

Depois de ouvir Double Dose e o acústico Quah, e ainda Burgers, foi-me dada oportunidade de recuperar todos os outros, antes lidos na imprensa musical francesa: Phosphorescent rat, de 1973; America´s Choice, de 1975; Yellow Fever, do mesmo ano, e Hoppkorv, de 1976. De todos, prefiro o primeiro, Phosphorescent rat. Todos, encontram uma excelente compilação no duplo ao vivo, mas na versão LP.

Os temas de luxo dos Hot Tuna, são, por ordem aleatória: Watch the North wind rise ( Hoppkorv); Letter to the north star, Soliloquy for 2 ( Phosphorescent rat); Sleep song e hit single #1 ( America´s Choice); Barrroom cristal ball ( Yellow fever); Hesitation Blues e Death don´t have no mercy ( primeiro); I can´t be satisfied e song for the stainless cymbal ( Hoppkorv); True Religion, Keep on truckin´, ( Burgers). Todo a dose dupla, ao vivo e todo o quah.

Em 1976, o grupo veio a França, ao festival de Nimes, no Verão. Em dois números, o de Setembro e o de Outubro, a Rock & Folk, deu-lhes o destaque da capa e de uma entrevista, na qual voltavam a referir a canção Third Week in Chelsea e a opção pela música acústica.

Nos anos a seguir, Jorma Kaukonen e os Hot Tuna, continuaram a publicar discos, alguns deles ao vivo. Nenhum deles, se aproximou dos publicados até ao final da década de 70.

2 comentários:

ié-ié disse...

As coisas que tu sabes, camarada! estou exausto!

LT

zazie disse...

É verdade...

E que capa!