quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Livros de música

No âmbito da música popular, não se pode dizer que haja grandes livros ou ensaios sobre a sua essência estrutural, o significado das suas notas musicais mais agudas, ou a semântica dos graves mais profundos.
Para além do mais, em Portugal, há trinta anos nem havia assim tanta coisa escrita ou traduzida para português, sobre este assunto, predominantemente musical,mas também com forte cariz social.
A crítica de discos e músicas, em Portugal, foi sempre de qualidade inferior à música. Lá fora, na França, Inglaterra ou EUA, acontecia por vezes o contrário.

Em 1975, foi publicado por cá um livro da autoria de um certo Jorge Lima Barreto, autor de outras obras sobre música jazz, como Revolução do Jazz ou Grande Música Negra.
O livro, intitulado Rock/Trip, procurava uma ponte ideal entre os sons publicados e o onirismo induzido pelas substâncias de alucinação, ilícitas na sua maioria.
A obra procurava uma atenção ambiciosa, de cariz sociológico e tudo, com títulos de trechos como Lumpen-music; Cosmo-política; Aventuras psicadélicas; Parapsicologia da trip; O Reino Imaginário; Colagem e acto cósmico; Pop sincrético, etc, etc.
Porém, tirando os títulos, nas suas 222 páginas, pouco adianta na compreensao do fenómeno rock ligado às drogas. Frequentemente incompreensível, com laivos esotéricos no pior sentido, é um livro que não se recomenda, a não ser como documento de época.



Mais interessante, é um outro, que comprei em Dezembro de 1976, traduzido do alemão- O mundo da música pop, de Rolf-Ulrich Kaiser, do início dos anos setenta, com prefácio de Joaquim Fernandes ( um curioso prefácio, aliás). Foi publicado pela Livraria Paisagem, do Porto.
O livro, abalança-se a uma história resumida do rock, numa perspectiva um tanto ou quanto libertária, com referências constantes a Tuli Kupfberg e os Fugs e grande encómio a Frank Zappa ( "o conjunto mais popular da música pop, chama-se Mothers of Invention", por exemplo). Foi escrito numa época em que o rock parecia ainda estar vivo, como na primeira metade dos sessenta. É um livro de ilusão, portanto. Mas que mostra os truques.




Na sequência de livros com intuito histórico e didático, há um outro, dos franceses, Philippe Daufouy e Jean-Pierre Sarton, intitulado Pop Music/Rock, publicado em 1972 e que comprei também em Dezembro de 1976, publicado pela Regra do Jogo, em 1974.

Este livro, foi reeditado numa 2ª edição, em 1981, com um pósfácio de um pouco mais de uma centena de páginas, muito interessante, aliás, de Miguel Esteves Cardoso. Aí, o escrítico que tinha recolhido precisamente em livro, intitulado Escrítica Pop, as suas crónicas de jornal, repesca quase todos os discos da década de 70, em resenha crítica sumária.
O livro, no entanto, é um pouco mais interessante do que o do alemão, embora na mesma tonalidade. Um pouco mais esquesdista, separando a "indústria", do artista e apresentando o panorama de modo seco e sem edulcorantes encomiásticos, torna-se um bom referente de certa escrita dos sixties.

Para além destes, merece ainda destaque, o livro de Steve Chapple e Reebe Garofalo, Rock & Indústria , publicado em 1977 e traduzido em 1989 pela Caminho.
Este livro, assume uma escrita altamente crítica para com a indústria musical sendo dedicado a Phil Ochs, o cantautor esquerdista americano, já falecido.
Com referências constantes a publicações musicais, vale-se de números e estatísticas para apresentar o panorama da música rock desde o seu começo nos anos 50 até à actualidade da época. Com entrevistas a responsáveis pelas editoras e publicações, é um dos manuais essenciais à compreensao da evolução comercial da música rock e suas actividades paralelas. Com inúmeras citações, torna-se uma bíblia das referências rock e obra indispensável para compreender a génese do fenómeno na América, das grandes companhias discográficas e das pequenas que se tornaram grandes entretanto. Altamente recomendado, tal como a bibliografia, extensa e de amplitude máxima, embora de pendor esquerdista.





















Nenhum desses livros, porém, assume um carácter tão original e de escrita tão apelativa como Awopbopaloobopalopbamboom, de Nik Cohn, publicado em 1970 ou Mistery Train, de Greil Marcus, publicado em 1975.


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