sábado, 9 de outubro de 2021

O Tintin que eu conheci

 Não me recordo do modo como conheci o Tintin, enquanto personagem ou mesmo a revista com o mesmo nome, lançada em Portugal em Junho de 1968. É provável que fosse nesta altura que tive contacto com tal banda desenhada pela primeira vez pois era frequentador de quiosques e fascinavam-me já as revistas e livros sobre determinadas matérias como a II Guerra Mundial. 

Os primeiros livros que comprei no ano de 1969 reflectiam tais gostos que viriam porventura das histórias de cóbóis e livrinhos de guerra que gostava de ler, os Condor popular, Mundo de Aventuras, FBi e outros do género do Major Alvega.

Nessa altura o Tintin enquanto personagem de bd ou a revista eram relativamente desconhecidos porque nunca tinha lido uma história completa nem sabia a riqueza temática que lá poderia encontrar. 

Porém, no início da década de setenta foram publicados uns cromos de colecção da aventura de Tintin e o Templo do Sol, tendo alguns deles chegado às mãos e suscitado a curiosidade pela beleza singela do traço e da cor. 

Foi nessa altura que comecei a desenhar, copiando modelos alheios, como era o caso do Tintin destes cromos que saíram em 1970, nas carteirinhas de pó de gelado Royal e que eram reproduções de fotogramas do desenho animado sobre o Templo do Sol.

Os desenhos no entanto inspiraram-se noutros modelos, também da mesma época, uma vez que não dizem respeito àquele desenho animado.





Foi apenas em Fevereiro de 1972 que comecei a comprar a revista Tintin, tendo já visto uma coleção de números anteriores, encadernados, na casa de um amigo. A aventura que então me suscitou maior atenção foi a de Tanguy Et Laverdure, os Cavaleiros do Céu que igualmente passavam na tv a preto e branco da época, em episódios semanais e com actores franceses. 




E a primeira aventura de Tintin que li já ia adiantada, tendo começado no início desse ano e durou até Julho...


A revista foi então uma descoberta por causa das outras histórias, todas em continuação e que prendiam o leitor até ao Sábado seguinte. 
Um dia desses, no Verão desse ano,  descobri na montra da livraria ( a Bertrand era quem distribuía a revista e colocava-a nos escaparates, tal como outras) outro Tintin, com formato ligeiramente maior e título mais encorpado. Era a edição original, belga. 


Era ainda mais espectacular e descobri uma série que me fascinava, mais que as outras, de Hermann com a história Comanche, aliás já iniciada anos antes, como vim a descobrir mais tarde. O desenho, as cores e a história eram imperdíveis. 


Portanto o Tintin passou a ser mais que o herói de Hergé. 
Logo no número seguinte ao primeiro que comprei, ainda em Fevereiro de 1972 começou uma história de Lefranc, desenhada por um dos colaboradores directos de Hergé, no Tintin do começo, dos anos quarenta, Jacques Martin, neste caso auxiliado por outro dos colaboradores daquele, Bob Moor. 
A série Lefranc teve continuação depois com outros autores, mas esta aventura é das melhores, a par da primeira, La Grande Menace , já então publicada pelo Tintin original e da autoria a solo de Jacques Martin, seguida de Le Mystère Borg que só conheci anos mais tarde. 


Quanto a Bob de Moor era autor de Barelli, aqui numa história de 1974, Le Boudha Boudant, publicada na Lombard belga.


O Tintin em Portugal tinha começado a ser publicado quase no começo ( Tintin no Congo) , por Adolfo Simões Müller que mantinha correspondência com Hergé e no Cavaleiro Andante de 12 de Julho de 1958 era assim a segunda página da aventura do Lotus Azul: 



Em 2004 o jornal Público tinha esta mesma página assi, no álbum respectivo que então foi publicado conjuntamente com os restantes 23 da série, incluindo o Tintin no país dos Sovietes. 
A diferença de cores é notória. 


Durante o ano de 1972 o Tintin publicou a história dos Charutos do Faraó, uma das mais interessantes, com o temível Rastapopoulos.


A seguir e até 1974, altura em que deixei de comprar a revista, ainda li O Lótus Azul e A Orelha Quebrada e uma ou outra página de A ilha Negra que se publicou durante o ano de 1974. O resto das histórias só muito mais tarde as li e nem todas pelo que nem saberia dizer qual é a minha preferida. 
Outro dos colaboradores iniciais de Hergé foi Edgar Pierr-Jacobs, o celebrado autor das histórias de Blake & Mortimer. 
Em 14 de Outubro de 1972 a revista publicava a história das Três fórmulas do professor Satô, a qual ficou inacabada sendo posteriormente terminada por colaboradores. Era um encanto. A segunda parte da história, Mortimer contra Mortimer foi publicada em 1990, já depois da morte de Jacobs, em 1987 e foi desenhada por Bob de Moor, a partir de esquissos e planos daquele, completamente delineados e preparados. 
Apesar de tudo, há uma diferença nítida entre ambos os desenhadores, com maior segurança e precisão de traço no caso de Jacobs, tido como perfeccionista e com menos sombras dispersas...




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