segunda-feira, 5 de maio de 2008

O som das músicas

A revista Música & Som, apareceu no mercado português, em Fevereiro de 1977. Não se pode dizer que tenha sido uma grande pedrada no charco da imprensa musical da época, mas na verdade, foi-o, porque em 1974, com o advento da Revolução de Abril, as revistas e jornais musicais, como a Mundo da Canção e o Disco, música & moda, perderam o peso específico, que tiveram durante alguns anos, como veículos de crítica musical e fonte de notícias sobre a música popular.

Em 1977, a carência era grande e quando o primeiro número da revista se apresentou, com uma capa duvidosa, em que figurava um cantor de teenagers, belga e insuportável, de nome Art Sullivan, ao lado de Bob Dylan, o pior era de temer.

Apesar disso, a ficha técnica da revista, dava algumas garantias de qualidade mínima e o primeiro disco em análise na revista, foi Blue Moves, de Elton John que então passava assiduamente no rádio, num texto assinado por João David Nunes, precisamente um nome de vulto no rádio de então.

Nos meses seguinte, porém, alguns números foram importantes. Por exemplo, em Junho de 1977, a par de um artigo sobre os Supertramp, o disco em análise, é simplesmente um dos maiores discos de sempre da música popular brasileiras, cantada em português por Taiguara.

O disco Imyra, Tayra, Ipy que nunca foi reeditado em cd ( excepto numa edição obscura, no Japão), é uma perfeita maravilha.













Na mesma revista, aparece uma referência fotográfica ao grupo alemão, Can, de um rock mais que progressivo e que ajudaram então a definir a minha moda de vestir. As camisas de rugby, listadas a verde e azul ou vermelho desmaiado e azul, como se vê na imagem, ainda hoje são um must have que não dispenso de ver e tentar descobrir.

Por outro lado, a revista, no início de 1978, tornou-se o único local onde podia ver alguma coisa relacionada com a minha revista fétiche: Rolling Stone.

No mês de Fevereiro de 1978, começava a publicação de artigos e notícias em serviço especial, por acordo com a revista norte-americana.


Ainda hoje não sei se não terá sido por isso que a revista desapareceu do panorama revisteiro português, desde o mês de Junho de 1977. O último número que comprei, foi o que tinha o actor Robert Niro na capa.

Por isso, passaram-me ao lado os números especiais dedicados à morte de Elvis Presley e a capa desenhada por Andy Warhol, de Outubro desse ano. Assim como me escapou o número comemorativo do XX aniversário da revista, publicado em 15 Dezembro de 77.

Porém, o número que me faltou mais, durante anos e anos a fio, foi o de 26 de Janeiro de 1978, com capa de Annie Leibowitz e foto em grande plano de Bob Dylan que nesse número e no seguinte, dava uma extensa e interessante entrevista, a Jonathan Cott, um dylanologista de mérito. O certo é que a revista só voltou a aparecer nos quiosques que frequentava e eram muitos, desde o Porto até Coimbra, passando por Lisboa, de vez em quando, em Ab ril de 1978.

E era tanto maior a minha pena em não apanhar a revista, quanto agora sei, como então prenunciava que a publicação, vivia os seus anos de ouro, ou mais que isso. Cada número , era uma descoberta, um delírio gráfico e uma maravilha de textos assinados pelos melhores críticos da música popular, para não falar das fotos de Annie Leibowitz.

Enfim, como quem não tem cão, para caçar, procura gato para o efeito, a circunstância de a Música & Som, ter começado a publicar exclusivos da Rolling Stone, servia de lenitivo à dor de carência, já então grave e sem remédio nem metadona substitutiva, a não ser a Crawdaddy e a Rock & Folk que lá iam servindo de alívio na dependência grave.

Assim, em Abril de 1978, lá publicou a Música & Som, a entrevista com Dylan, saída originariamente na R.S. Sem o glamour desta e sem o tratamento gráfico conveniente. Ainda por cima, a Rock & Folk, publicava no mês de Julho de 78, uma capa com um desenho de Jean Solé, reproduzindo a foto de Annie Leibowitz e relatando um concerto de Dylan nos USA, através do correspondente permanente, Phillipe Garnier. Imbatível, neste exercício de escrita.













Ainda assim, a Música & Som lá cumpria os mínimos no que se referia à música que nos dizia directamente mais respeito.

Em finais de 1977, publicitou um concurso em que “toca a todos”, desde que enviassem um texto, ensaio ou desenho. O prémio para o desenho ,era uma viola acústica, clássica e espanhola, da marca Almeria. Ora, eu já tinha a minha adorada Kiso-Suzuki, mas queria desenhar e ganhar o prémio e desenhei um tema proposto: Eric Clapton .

Fui aos arquivos de jornais, copiei as imagens de sequência cronológica e gastei horas a desenhar com todo o cuidado a lápis e depois a passar tudo a tinta da china, com pena gráfica fina e precisa. O desenho ficou bom. De se ver ao longe e apetecer guardar. Mandei, no fim do ano, para o concurso.

Em Fevereiro de 1978, ao folhear a revista desse mês, reparei nesta página, depois de ma assinalarem. Fiquei satisfeito, mas desiludido com o resultado gráfico, na revista. O original, onde para? Alguém o deitou fora?
Bem gostava de saber.


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