sábado, 7 de fevereiro de 2009

Hi-Fi




















Os amplificadores Sansui, de meados dos setenta e o gravador da Nakamichi, dez anos mais tarde. Duas maravilhas da técnica japonesa.

Depois das primeiras experiências do sons agradáveis ao ouvido, comecei a apurar a atenção sonora, para as particularidades dos aparelhos de reprodução de música. Um rádio a pilhas ou de transístores amplificados, em FM, transmite apenas uma imagem sonora em espectro comprimido pelas capacidades de reprodução limitadas.
Ouvir um disco em aparelhagem de alta fidelidade, no início dos anos setenta, era tarefa difícil pela raridade das fontes.Geralmente, a melhor era a da própria discoteca que vendia os discos. Na altura já havia uma no sítio onde vivia e com duas cabines de som que permitiam escutar em bom recato o disco que se poderia comprar a seguir.
Moody Blues, de Seventh Sojourn, em 1972, lembro-me bem que foi um deles. Ou Machine Head dos Deep Purple. Ou ainda American Pie de Don Mclean. Uma maravilha de som que não tinha correspondência no que se ouvia no rádio. Um stereo bem separado; um baixo bem definido e distinto do som da bateria; uma voz e tons intermédios que não se encavalitavam nos demais.
Aprendi depois que a alta fidelidade, traduz a possíbilidade de se ouvir os sons bem definidos e tão próximos quanto possível da reprodução ao vivo. Um som de baixo deve ser distinto do bombo maior da bateria e a dinâmica entre agudos e graves, deve ser o mais ampla possível, embora o ouvido humano só capte uma parte das frequências disponíveis.
Uma das primeiras experiências sonoras gratificantes foi em juke boxes. Aparelhos de café, grandes de metro de altura e um leque de singles, para escolher a troco de moeda pequena. Todos os singles do Sticky Fingers, dos Stones, foram ouvidos em jukebox de café. Os Beatles,igual. Cat Stevens e outros.
Por muito espectacular que sejam as juke boxes, não são alta fidelidade. E essa ouve-se em gira-discos de qualidade suíça ( Thorens) ou inglesa ( Linn), ou mesmo Dual, com agulhas e cabeças de leitura japonesas ( Koetsu ou Audio Technica ou mesmo Ortofon, de outro lado).





















Aparelhadas a amplifiadores de qualidade ( japoneses para o corrente de alta qualidade e ingleses para o esoterismo. Sansui, Akai ou Quad). E para se ouvir bem, umas colunas de duas ou três vias sonoras, para separar os graves os médios e os agudos. Neste campo, os americanos da JBL, da série 2100 ou os ingleses da Bowers & Wilkins série 801, ou as Rogers, são referência. Mas uns auscultadores Sennheiser série 600 fazem o mesmo efeito junto aos ouvidos.




















As colunas de som B&W 801 e as JBL dos anos setenta.

Essas referências, nos anos setenta eram apenas mitos de papel em publicidade lustrosa. Só ouvi essas maravilhas, bem entrado nos anos oitenta, porque em Portugal, a partir de meados da década de setenta, a importação livre estancou na falta de divisas que a Revolução provocou.
A alternativa eram as lojas de contrabando e havia várias, no Porto, Lisboa ou Coimbra. Tudo aparecia por lá, mesmo os aparelhos mais improváveis, como os gravadoes de cassetes da Nakamichi que vi em Coimbra em finais dos setenta. Ou umas colunas alemãs, Visonik David que me encantaram nos lados da rua Escura no Porto.
De resto, havia as revistas de alta fidelidade que mostravam o que não podíamos ter ou ouvir.
A primeira vez que fiquei impressionado com a qualidade sonora de um disco em alta fidelidade, foi com o Supertramp de Crisis? What Crisis? , de 1976. Um dia, Domingo de manhã, ouço os primeiros acordes de Easy soes it e nunca um disco tinha soado assim. A aparelhagem era de contrabando, marca Akai e nem sequer de altíssima qualidade, mas a suficiente para ter percebido que aquilo era escutar música como ela deveria ser escutada. A mesma experiência repeti pouco depois no mesmo sítio com um disco de Sonny Terry e Brownie Mcghee, de 73. Fantástico som e que me prendeu a atenção até hoje,

Parafrasenado Milton Nascimento ( "cerveja que tomo hoje é apenas em memória dos tempos da Pan Air"), música que ouço hoje é apenas em memória desses sons de qualidade original e de descoberta da maravilha da alta fidelidade. A impressão que deixou, replicou depois, várias vezes ao longo dos anos, mas é uma experiência que se sente poucas vezes e quando aparece, é única. É um pouco como a descoberta do nirvana sonoro, quando acontece.
Depois disso, lembro de ouvir o som de uma aparelhagem na discoteca Santo António no Porto, no final dos anos oitenta que me deixou de ouvidos atentos para sempre: umas colunas Bowers & Wilkins modelo 801 debitavam em baixo volume aquilo que me pareceu e continua a parecer a referência em alta fidelidade. Antes, em Coimbra, na discoteca Valentim de Carvalho, em 1979 ouvi o disco Octave dos Moody Blues e a canção Driftwood e ainda hoje recordo a beleza da aparelhagem sonora que a reproduzia, bem como a seguir ouvio no mesmo sítio Sleep Dirt de Frank Zappa e o jazz-rock nunca me pareceu tão bom.
No inicio dos anos oitenta comecei a trabalhar e a procurar a minha primeira aparelhagem de som que me permitisse ouvir em stereo decente o que já ouvia em mono há muitos anos.

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