sábado, 23 de fevereiro de 2008

Sangue, suor e lágrimas para chegar a Chicago

( imagem da contracapa do disco de 1968 dos B.S.& T, reduzida às dimensões de um scanner A4)

A introdução do primeiro tema do álbum B,S & T, de 1968, é uma variação sobre tema de Satie, começa com flautas e guitarra clássica e dura uns segundos, até se ouvirem os metais que conduzem a sonoridade de todo o disco, dominado ainda pela voz de David Clayton Thomas. Foi este o disco mais vendido do grupo, segundo consta.

O disco soa mais próximo do jazz, do que do rock, o que se torna evidente no tema seguinte, Smiling Phases, com grande partes instrumentais, envolvendo metais e teclados e umam secção rítmica omnipresente. A balada Sometimes in winter, com flauta misturada em metais, nem parece dos B, S & T.mas de uns Love. Mas o tema seguinte, More and More, reconduz ao suor do grupo, sem qualquer lágrima e com um solo de guitarra de Steve Katz. A harmónica de And when i die, introduz apenas um arremedo de gospel, bem arranjado que deu em single de sucesso. O último tema do lado A do disco, God Bless the Child, é Chicago Transit Authority, avant la lettre e soa a Ray Charles.

O lado dois, abre com a Spinning Wheel. O que sobe tem de de descer, por isso, sendo este um dos singles de êxito do grupo e que dá imediatamente lugar ao seguinte, no alinhamento do disco: You´ve made me so very happy. Uma balada soul, que atingiu os tops de vendas, mas sem a delicodoçura do tema dos Chicago dali a quase dez anos, If you leave me now. Um rebuçado de mentol e um bombom de chocolate belga, é essa a diferença de sabor entre os dois sons.

Depois desses três singles de sucesso, quase concentrados em sequência no disco, aparece um tema extenso, jazzístico e bluesy, que lembra por vezes James Brown, tendo depois, a rematar, um som de flautas que recordam a música folk, progressiva, dos ingleses de Cantuária.

Em seguida a esse disco grande do grupo do Sangue Suor e Lágrimas nada mais ouvi que me fizesse ansiar por mais, dessa música sofrida.

Prefiro por isso os primeiros onze álbuns dos Chicago. Todos, mesmo o quádruplo ao vivo( o IV), gravado no Japão e uma novidade para o mercado da época.

Em 1971, no entanto, quando já tinham saído três discos do grupo, os encómios eram de monta, em todo o lado. Até por cá, o jornal Disco , música & moda, da edição de 1 de Setembro desse ano, se pronunciou, pela pena de José Pessoa . Fazendo o paralelo entre os dois grupos, em relação aos quais, havia uma "certa guerra entre os apreciadores", escrevia que considerava os B,S,&T um grupo menos “comercial” do que os Chicago e acrescentava algumas considerações sobre o jazz da época, a transição para o rock e escrevia sobre Miles Davis e Tony Williams e o uso extenso das baterias como factor rítmico importante, nesse tipo de música (na imagem abaixo, vem parte do texto, onde se consegue ler o que José Pessoa pensava, do panorama musical português da época).

Provavelmente, no entanto, não lhe disseram quanto teria já vendido o segundo disco dos Sangue Suor e Lágrimas. Certamente muito mais, em comparação com o primeiro do Chicago Transit Authority, saído no ano seguinte.

Quem ouve este primeiro disco dos Chicago, produzido pelo mesmo indivíduo dos Blood Sweat an Tears, James William Guercio e com o mesmo engenheiro, Fred Catero, nota logo uma semelhança flagrante, no uso extenso dos metais, no ritmo batido e nas inflexões jazzísticas. O disco dos Chicago, porém, só tem um single de relevo: I´m a man. Mas tem Prologue, seguido da magnífica Someday. Com ruídos de rua. De manifestações. Em 1969...

Era esse o som dos Chicago, dos anos seguintes. Se o primeiro dos Chicago fica atrás do segundo dos B.S.& T., os dois álbuns seguintes dos Chicago, o II e o III, duplos, dão-lhe água pela barba, em todos os temas.

Esses dois discos dos Chicago, são de qualidade superior e nem precisam dos singles de sucesso que foram Make me smile, 25 or 6 to 4, ou ainda Colour my world ( embora esta seja das minhas preferidas de sempre, dos Chicago, no capítulo dos slows para baile de Sábado à noite...), do disco II. Deste, prefiro logo os dois primeiros temas e até o último, incluindo a suite que imita a imitação de Satie.

Do III, então, nem se fala: An Hour in the Shower, vale uma boa parte do primeiro lado do disco dos BS&T e What else can i say, a terceira do lado A, nos meus ouvidos, valem bem You´ve made me so very happy. Até tem pedal steel guitar...


1 comentário:

joão oliveira santos disse...

& lembro lucretia macevil em blood, sweat & tears três