quinta-feira, 14 de junho de 2007

Azul metal


O primeiro anúncio da revista Métal Hurlant, foi publicado na pág. 12 da revista Rock & Folk de Fevereiro 1975, com a capa dedicada aos Led Zeppelin e a atenção interior ao disco Physical Graffiti, publicado pela Atlantic ou pela...Swan Song.


A revista Métal Hurlant, saida em Janeiro de 1975, com tiragem inicial de 50 000 exemplares, da inspiração directa de Jean-Pierre Dionnet e então com periodicidade trimestral, não chegava então a Portugal, tal como outras, aliás.


Assim, só no início do Verão de 1976, através de um amigo que fora a Paris e lá a comprou, logrei folhear pela primeira vez, a revista, já no nº 7, com uma capa fantástica de Etienne Robial, o grande autor do aspecto gráfico da revista. Letras grandes, quase em tipo helvética e barras a traço grosso, verticais, horizontais e mesmo em diagonal, no pequeno raio estilizado. O grafismo da Métal Hurlant é simplesmente extraordinário, nessa época. A revista, impressa em Itália, tinha um cheiro característico no papel que aliás, ainda conserva, passados mais de trinta anos. No interior desse número, os primeiros desenhos de The Long Hello, de Moebius e que prefiguravam o futuro Incal e outros Major Fatal ( nesse número continuava já a história fraccionada de Le Garage Hermetique), para além de inspirar directamente o filme The Blade Runner e o 6º Elemento.
A revista, dedicada primordialmente a temas de ficção científica, com histórias desenhadas por alguns dos maiores autores da bd francesa ( Moebius, Druillet, Denis Sire, Serge Clerc e o malogrado Yves Chaland) publicara as seis capas em anúncio na Rock & Folk, a preto e branco. A curiosidade em vê-las a cores e ao vivo, só alguns anos foi satisfeita. Acabei por assinar a revista nos anos oitenta e comprar depois a colecção quase completa ( faltam os 3 primeiros números).


A imagem da capa do primeiro número é fantástica em vários sentidos: no tema e na composição.
Recentemente, através de um volume intitulado Métal Hurlant, La machine à rever, publicado em França, em 2006, e dedicado a uma história ilustrada da revista que acabou em 1987, descobri que essa primeira capa desenhada por Moebius, teve uma inspiração directa, numa imagem de um quadro de Maxfield Parrish.
Aqui ficam as duas imagens, para comparação e meditação.


3 comentários:

Paulo Dá Mesquita disse...

Curioso, o impacto da ressonância de palavras que julgava já perdidas, de tempos de que já não melembro... por exemplo Métal Hurlant, que tinha incluído no departamento bd, na estranha arquitectura do nosso sistema neuronal separada de uma outra linha ainda mais apagada... led zepelin (por seu turno associada a tempos que apreciava coisas ainda mais esquecidas como a guitarra de jimy paige, não torqueia aqui as voltas pois não? posso confirmar com um vinil empanado que tenho na sala ou eventualmente outros que ainda estarão (?) na casa dos meus pais)

Nesta curiosa afinidade de gostos que vou descobrindo,caro josé,não há aí espaço para uma referência a neil young? dos poucos que recuperei na geração cd (também esta numa fase crepuscular, um estranho privilégio este de assistir a várias mortes tecnológicas) e em particular o álbum Harvest (a minha velha mania Dylan, fica para outra oportunidade, embora também aí uma estranha pluralidade de factores tenha obstado à reconstituição plena da discoteca de vinil).
Abraço,
PauloDM

josé disse...

Neil Young? É de interesse garantido, tanto mais que se associa a C,S,N & Y e a primeira revista Rock & Folk que comprei, foi em Outubro de 1974, por causa dos CSN&Y que nesse ano se apresentavam em Wembley.

A história da descoberta de Neil Young e da Rock & Folk segue dentro de momentos- quando houver tempo livre.

MARIA disse...

Caro José,
Desculpe mas não resisti a fazer este comentário . Achei extraordinário - a revista tinha um cheiro característico que mantém passados 30 anos -
Também eu sou muito dada à sensibilidade dos vários sentidos. Infelizmente acho que banalmente o comum das pessoas usa apenas o olhar e o ouvido, utilitariamente.
Como gostaria de saber a que cheira essa revista .
Continuo a mergulhar, sempre que posso neste espaço.
As melhores saudações.
Maria