segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

1982: a primeira aparelhagem hi-fi

Faz este ano 30 anos que comprei esta aparelhagem da Grundig. Numa altura em que o cd era apenas um projecto que se concretizaria no ano seguinte ( os primeiros cd´s produzidos em massa são já de 1983) o disco lp, de vinil era o meio preferido de audição e gravação em cassete para ouvir no carro ou em modo mais prático, permitindo selecções musicais ao gosto do ouvinte. Fartei-me de fazer compilações em cassete de músicas de lp´s e que ainda guardo, mantendo a qualidade relativa dessas gravações.
A aparelhagem Grundig custou na altura um pouco mais de trinta contos, com colunas que eram adquiridas à parte. Para compensar a qualidade sonora podia sempre arranjar-se uns auscultadores que davam um ambiente sonoro mais intimista e preciso.
O gira-discos acoplado na aparelhagem era da Dual, americana com representação na Alemanha e a cabeça de leitura foi eventualmente trocada por uma Audio-Technica ainda em modo magnético. As moving coil viriam algum tempo mais tarde, em meados da década e com outra aparelhagem.
Ainda assim esta aparelhagem produzida em Portugal, pela Grundig de Braga, era uma novidade apetecida porque era indubitavelmente hifi, respeitando as normas DIN e foi nela que ouvi os primeiros discos a sério e com qualidade sonora já elevada. O gravador de cassetes incluído tinha já sistema de redução de ruído Dolby ( B) e permitia a gravação e leitura em cassetes de dióxido de crómio ou mesmo metal.

O sintonizador de rádio era uma beleza que permitia a gravação de temas avulsos ou discos inteiros quando passavam, o que acontecia cada vez menos depois de nos anos setenta ser coisa comum. Uma boa parte dos discos que me interessava então ouvir, escutava-os a horas mortas nos programas de rádio em FM, na Rádio Comercial, com o Espaço 3P ( Boa noite em FM, Banda Sonora, Perspectiva, por exemplo) e Em Órbita.
O disco que mais me marcou então foi o Still Life dos Van Der Graaf Generator, de 1976, mas nos anos seguintes a emissora que marcou os meus dias de rádio foi a Rádio Popular de Vigo que se apanhava muito bem em FM, na região onde vivia.
Muitas músicas que nunca ouvira em Portugal passaram a ter hora marcada de audição, por volta das 7 da tarde, num programa cujo indicativo era um instrumental de Jean-Luc Ponty. Jackson Browne, por exemplo, no disco Running on empty e a canção Stay. A primeira vez que ouvi Comes a Time de Neil Young, em 1978, foi nessa emissora galega. Idem para um tema de Kenny Rogers, Ruby don´t take your love to town, de 1969 mas regravado então e que passava muitas vezes, em 1978. Gerry Rafferty e City to city; Wings e London Town; Tubes ao vivo; Take it to the limit dos Eagles, cantado por Jimmy Buffet; os Eagles, porque saíra em 1976 o Greatest Hits, etc etc.
Foi nessa emissora e nesta aparelhagem que ouvi pela primeira vez o som digital do cd e até havia um programa especial em que passavam apenas discos em cd. Julgo que se chamava "digital em fm" e passava por aí em 82-83. Gravei algumas músicas: Rosana e Africa, dos Toto do álbum IV, de 1982 e que soa espectacular numa boa aparelhagem. Ainda hoje ao ouvir o sacd desse disco, me lembro da qualidade virtual que se adivinhava na emissão da Rádio Popular de Vigo. Simon & Garfunkel, do álbum Bridge over troubled water, um dos primeiros discos de cd que apareceram no mercado; os Dire Staits de Love over gold, saído em 1982 e principalmente Gaucho, dos Steely Dan.
Foi nessa Grundig que aprendi a gostar de hifi e ainda hoje busco o nirvana sonoro com memórias desse tempo.
Foi nessa aparelhagem que ouvi pela primeira vez, em 1982, os discos dos Beatles reeditados então em Portugal, gravando o álbum Branco pela primeira vez. No entanto, foi na Rádio Popular de Vigo que ouvi pela primeira vez Two of us, na mesma altura. Mais de dez anos depois de sair em Let it be.

4 comentários:

joserui disse...

José, a Dual dos gira-discos era alemã de gema... entretanto faliu, foi comprada pelos chineses e posteriormente pelos coreanos-americanos (esta parte vi na Wiki).
A minha primeira experiência Hifi via meus pais foi um Amplificador/Sintonizador LG (antes de ser a LG de hoje, era Toshiba se me lembro que eu tinha a mania de abrir tudo), gira-discos não me lembro, mas depois veio um Dual; gravador Sony anterior à máquina incrível Sony que também já tinha comentado aqui. Colunas seriam Sansui? Os auscultadores eram...
Com o meu dinheiro comprei primeiro uma Bang & Olufsen que ainda tenho... encheu-me as medidas anos... já não enche, longe disso.
Fora isso pouco comprei... Amp Yamaha; Colunas Bose e B&W; leitores Denon e Arcam; gira discos Pro-ject; cabos Chord bons... queria remodelar tudo menos o Arcam... ando à espera de melhores dias... Mas estou contente qb.
Quanto ao vinil, nunca foi tão importante para mim como hoje... comprei uns 10 este último mês... -- JRF

MARIA disse...

:)

interessante !

josé disse...

A Dual era alemã e pensava que era americana por causa da publicidade que via nas revistas americanas.

Os LP´s ainda são a referência em termos de música pura, para mim.

Na revista do Expresso desta semana o falecido Pedro Osório diz que a maior qualidade do lp em relação ao cd "é tanga". Não é, segundo os meus critérios.

Actualmente compro lp´s antigos para gravar digitalmente através de um Roland Quad em 24/96, o que é superior ao cd. E a diferença nota-se e ouve-se muito bem, porque além disso é mais prático.
Através do computador, com um DAC externo é possível ouvir o som muito semelhante ao do lp e é isso que tenho feito.
Foi uma descoberta, para mim e tenho a impressão que irá ser o futuro da reprodução musical porque permite ouvir em melhores condições que o cd.
Logo que se generalize a possibilidade de descarga de músicas em alta definição de 24 bits e 96 ou até 192 KhZ está concluído o processo de transição e a recuperação do som hifi como deve ser.

Por mim, já o ouço como quero.

E o acrescento ao computador fica por menos de 200 euros: um dac Fiio E-7 acoplado a um E-9.
É ver na internet...

joserui disse...

Sim... mas há outra coisa... a minha vida mudou muito como a de todos nós que fomos crescendo e tendo filhos e actividade profissional...
A lentidão e ritual do LP, faz-me bem... sento-me para ouvir música, vs. ouvir música em qualquer lado enquanto faço 1001 coisas. Além disso, o som é melhor.
Esse sistema digital deve ser muito parecido com o SACD. Julgo que é o melhor som que ouvi até hoje via Arcam DV39 (mas é facto que o Arcam novo custava uns 3000€ o que deve ajudar muito...) -- JRF